Conferência do curso de Administração: Algoritmos do Poder: Como as Plataformas Digitais Manipulam a Política / Foto: Kethelly Lopes

Por Kethelly Lopes

O professor Fernando Vianna, do Departamento de Gestão e Economia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ministrou a palestra “Algoritmos do Poder: Como as Plataformas Digitais Manipulam a Política” no 27º Seminário de Pesquisa do CCSA, realizado na última terça-feira (23), no auditório do Nepsa 1, na UFRN.

Durante a conferência, Vianna destacou como as redes sociais influenciam comportamentos e moldam percepções políticas, ao decidirem o que vemos e como interagimos. Segundo ele, os algoritmos, controlados por grandes corporações, determinam a lógica das interações com um objetivo central: o lucro. O professor sintetizou essa dependência digital em uma frase: “se não está no Instagram, não existe”.

Vianna ressaltou que todas as plataformas seguem a mesma estratégia: atender ao interesse de seus proprietários, explorando dados dos usuários em busca de poder e ganhos financeiros. “Qualquer tipo de polarização gera dados, quanto mais ‘treta’ e divisão, mais as empresas lucram”, afirma. Para ele, as fake news, a manipulação de conteúdo e o vício digital não são problemas colaterais, mas sim engrenagens centrais do sistema. “Se o Instagram acabar, ninguém vai saber que eu existo”, diz, ao relatar falas de empresários que já não conseguem se imaginar fora das redes.

As consequências, segundo o pesquisador, são graves: aumento da assimetria de poder entre usuários e corporações, fragilidade política e ambientes sem transparência. Questionado sobre alternativas, Fernando Vianna foi enfático: não há saída fácil. A educação crítica pode ser uma forma de resistência, mas insuficiente diante da força das big techs. “Seria uma decisão radical? Sim, mas o que eles fazem também é radical”, declara ao defender que apenas o banimento das redes sociais poderia interromper o ciclo de manipulação e mercantilização dos dados.

A análise mostrou que a mercantilização vai muito além da simples oferta de produtos: as plataformas exploram a confiança entre pessoas para direcionar anúncios e moldar comportamentos. Nesse processo, não importa a posição política do usuário, mas sim o tempo gasto e os dados fornecidos. O resultado é uma relação desigual, em que empresas como a Meta impõem regras inquestionáveis, enquanto usuários aceitam sem poder de negociação. Ao final, a conferência deixou claro que compreender esse mecanismo é essencial para enxergar o verdadeiro alcance do poder das plataformas digitais e para refletir sobre como resistir a um sistema que transforma até nossas relações mais íntimas em mercadoria.