Por Belita Lira
Desde o dia 15 de abril, a Pinacoteca do Estado, no histórico Palácio Potengi, se transformou em território de afeto, memória e resistência com a abertura da exposição Faces do Reduto. Inspirada na Trilogia Poética do Reduto, obra da cineasta Mônica Mac Dowell, a mostra convida o público a mergulhar na vida da comunidade do Reduto, localizada no litoral norte do Rio Grande do Norte.
O projeto desdobra os curtas-metragens Rosa de Aroeira (2020), A Deus Querer (2022) e Julião, Filhos da Praia (2024) em três módulos temáticos que unem fotografia, som, vídeo e instalações sensoriais. As obras narram o cotidiano de uma comunidade marcada pela força do trabalho coletivo, pelo saber ancestral e pela luta em preservar sua identidade frente às transformações do tempo.

Entre os destaques da exposição está uma peça de três metros de altura confeccionada em renda labirinto — técnica tradicional recentemente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do estado. Essa expressão, passada de geração em geração, é símbolo da resistência silenciosa que tece o Reduto.
A origem do projeto está nas vivências da própria cineasta. “Atrás da minha casa, no Reduto, havia uma casa de farinha. Vi mulheres reunidas em torno da mandioca, mãos ágeis em um ritual que era mais que trabalho — era memória viva. Senti a urgência de registrar aquilo”, relata Mônica Mac Dowell, que iniciou suas gravações com o celular em mãos e o coração aberto à escuta.

Cada módulo da exposição convida o visitante a percorrer as trilhas do Reduto: da pesca artesanal à produção de goma, da apicultura à renda, entrelaçando histórias de fé, luta e pertencimento. A trilha sonora, criada por Valéria Oliveira, costura os ambientes com canções e paisagens sonoras que ecoam a alma da comunidade.
Uma sala imersiva assinada pelo artista visual Wil Amaral encerra o percurso. Nela, sons, imagens e palavras dos três filmes se fundem em uma instalação de forte impacto sensorial, oferecendo ao público uma vivência profunda do território e de sua gente.

A curadoria da exposição é de Manoel Onofre Neto, com expografia de Rafael Sordi Campos, Ângela Almeida e João Marcelino. “Faces do Reduto é mais que uma mostra: é um gesto de reconhecimento e cuidado com uma cultura viva. Mônica cria com delicadeza e verdade, revelando as camadas poéticas da existência de um povo que resiste com beleza”, destaca Onofre.

A exposição é um convite à escuta atenta e ao olhar sensível sobre uma comunidade que, através de suas práticas cotidianas, mantém viva a memória, a arte e a espiritualidade de seu território. Ao transformar gestos simples em narrativas visuais e sensoriais, a mostra celebra a dignidade do trabalho coletivo, a beleza da tradição e a força da resistência cultural, fazendo do Reduto não apenas um lugar no mapa, mas um espaço de pertencimento e poesia.