Oito performando peça de teatro, “ Lágrimas de Narciso” - Goianinha -RN (Foto por: Italo Carlos- 2023)

Por Gilvictor Silva do Nascimento

 A arte em sua definição clássica — é a produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana. Mas o seu legado ultrapassa e transforma sua definição em algo maior,  o poder da arte move paredes sociais e quebra paradigmas culturais, sua ilimitade é sua fonte de diversidade e sinergia social, a arte transforma e se transforma em — estado de espírito. Para o Contexto sociocultural da arte no nordeste, é evidente que a cena artística do Rio Grande do Norte (RN) é vibrante e diversa, enraizada em fortes culturas populares e impulsionada por uma arte contemporânea que dialoga com o regional, com destaque para o artesanato, teatro, artes visuais  e música. 

        Ela carrega cultura e ancestralidade, destacando a força da produção artística potiguar, impulsionam a cena e atraem novos públicos. Mas a cena artística do Rio Grande do Norte ainda enfrenta desafios significativos relacionados à falta de financiamento, infraestrutura inadequada e desvalorização profissional, o que dificulta a sobrevivência dos artistas locais. Para o Oito, estudante de teatro em Goianinha e multi-artista, destaca que a continuidade da produção cultural no estado depende diretamente do envolvimento coletivo. Segundo ele, “para que a nossa arte continue acontecendo, a gente precisa realmente do apoio de toda a população que gosta da arte em si”. O artista reforça que esse incentivo funciona como combustível emocional e simbólico: é dele que nasce “o gás para continuar expandindo a nossa arte”.

Oito chama atenção, principalmente, para a realidade das cidades interioranas, onde a arte ainda é frequentemente criticada ou deixada de lado. Para ele, o apoio precisa começar justamente nesses espaços, com a participação ativa da população, do poder público e também de pessoas jurídicas. “Começar a apoiar mais os artistas locais das cidades interioranas” é, segundo o multiartista, um passo essencial para garantir que a produção cultural sobreviva e avance. Com investimento e reconhecimento, ele acredita que “nós, artistas, podemos alcançar lugares bem mais altos do que a gente pode imaginar”.

       A construção de sua identidade social e política dentro da cena teatral também passa por um processo longo e exigente. Ele descreve essa trajetória como algo “bem desafiador”, porque exige autoconhecimento profundo: “É algo que necessita muito entendimento de você mesmo. É algo que necessita muita compreensão de quem você é.” Por muito tempo, esse entendimento não existia — “eu não sabia quem eu era, eu não sabia o que eu podia fazer nos palcos, não sabia o que eu podia criticar nos palcos” — e essa falta de direção refletia diretamente em sua atuação artística. Com o tempo, porém, esse movimento interno se transformou em evolução: “Acho que é um processo de evolução, aprender isso, aprender a me posicionar e aprender a representar isso de forma artística.”

Ele lembra que um dos momentos decisivos dessa transformação foi em 2023, quando participou de um espetáculo que abordava diretamente questões sociais e estéticas. “A forma que mais se representou isso foi um espetáculo que eu participei lá em 2023, onde nós criticávamos o padrão estético”, conta. Para ele, aquela montagem marcou sua trajetória porque trouxe impacto visível: “Eu acho que essa cena tocou bastante pessoas que passavam por aquilo.” Na percepção do artista, essa experiência não apenas reafirmou seu posicionamento, mas também mostrou “que representa muito essa questão política”, revelando como o teatro se torna ferramenta de reflexão, denúncia e identificação para quem assiste — e também para quem faz.

     No encerramento, o artista reforça que o teatro potiguar e a arte nordestina carregam uma função que ultrapassa o entretenimento: são instrumentos de afirmação identitária e enfrentamento ao preconceito. Ele explica que “o conceito da arte potiguar, sobretudo o teatro, que é a qual eu faço parte, é importante para nós, nordestinos, termos… para nós, nos afirmarmos como nordestinos nessa arte”, porque, segundo ele, “o Nordeste é a parte do Brasil que mais sofre xenofobia, mais sofre preconceito”. Nesse sentido, seu compromisso enquanto artista nasce da necessidade de visibilidade: “mostrar que nós também temos talento, temos coisas a oferecer”. Para ele, essa tarefa é urgente e coletiva — “eu acho que isso é algo que a gente deve fazer, algo que a gente com certeza deve fazer pra mostrar pro resto do mundo, resto do país, que nós estamos aqui e nós devemos ser vistos”.

Ao ser perguntado sobre como se adequa a esse contexto, ele aprofunda: “Eu acho que eu… eu costumo me reafirmar como uma pessoa nordestina”, destacando que reafirmar essa identidade é uma escolha deliberada para “deixar isso mais relevante”. Em sua fala, essa reafirmação não aparece como detalhe, mas como eixo que sustenta sua existência artística; é parte de sua presença no palco, de sua postura e de sua mensagem. Assim, ao insistir na própria identidade, o artista transforma sua trajetória e sua arte em um posicionamento claro: um movimento para garantir que o teatro potiguar, e a arte nordestina como um todo, continuem existindo como força, resistência e voz dentro da cultura brasileira.