Professora Nathy e os alunos | Foto: Ana Júlia Rodrigues

Por Ana Júlia Rodrigues/Fotojornalismo

O Centro de Treinamento Mestre Vitor, tem se mostrado uma verdadeira ferramenta de
transformação na vida das crianças do bairro Planalto, em Natal. O projeto tem como objetivo praticar a consciência corporal através da capoeira, além de trabalhar as relações sociais, a autoestima, a disciplina e o espírito de equipe dos jovens.

Trazida ao Brasil pelos africanos escravizados pelos colonizadores portugueses, a capoeira
tem raízes em práticas de luta de povos da África, como Angola e o Congo, e foi adaptada no Brasil de uma maneira disfarçada, para que os escravizados pudessem se defender sem
chamar atenção. A ideia era praticar como uma dança, mas com movimentos de luta, para
enganar os senhores de engenho. Com o tempo, a capoeira virou um símbolo de resistência e de identidade cultural. Depois da abolição da escravidão, a capoeira foi vista de forma negativa, associada a marginais. Mas, no século XX, ela começou a ser reconhecida como parte importante da cultura brasileira. Hoje, a capoeira é praticada em várias partes do mundo, celebrando a mistura de arte, música e movimento.

Idealizado pela professora Nathalyelys, o projeto foi desenvolvido com o propósito de
retribuir o que foi feito a ela quando era criança. “A capoeira me deu um norte na vida. Me
tirou de uma realidade de que não era tão favorável e me deu oportunidades como bolsa de estudos, trabalhos em hotéis com shows de capoeira, além de uma viagem para Europa para trabalhar com a capoeira. Coisas que eu não teria condições de fazer se não fosse a capoeira”, afirma a professora.

Roda de canto e instrumentos | Foto: Ana Júlia Rodrigues

As aulas acontecem de segunda a sexta, às 18h em uma academia alugada por Nathalyelys no bairro Planalto, cujo os alunos fazem uma espécie de vaquinha para ajudar a custear os gastos do projeto. Diariamente eles se reúnem em frente a casa da professora, e a esperam para seguir o caminho rumo a academia e treinar os movimentos corporais, com a junção das músicas com os instrumentos berimbau, pandeiro e a atabaque.

De acordo com os alunos, a capoeira foi uma ferramenta para enxergar a vida de maneira
diferente da que viviam antes. “Antes de entrar na capoeira, eu vivia fugindo de casa. Fugia e demorava horas para voltar, meus pais ficavam muito preocupados. Depois que eu entrei no projeto, a professora Nathy me ensinou que isso errado e eu parei de fugir”, relata a aluna Esther.

Elayne Evellyn, de 10 anos, relatou um pouco do preconceito que sofreu ao entrar na
capoeira. “Quando descobriram que eu estava fazendo capoeira, as pessoas começaram a
falar que isso era coisa de marginal, macumba e que não iria acrescentar em nada na minha vida. Mas a capoeira mudou a minha vida. Antes, eu vivia em casa só mexendo no celular e não fazia nada para me movimentar, com a capoeira eu fiz amigos, aprendi a fazer estrelinha e tocar instrumentos”, compartilhou Elayne.

Hoje, o projeto se expande muito além da dança e da defesa pessoal, é uma maneira de provar que o esporte é uma ferramenta para mudar a realidade dos jovens através da dedicação dos alunos e do apoio dos professores.