Muhamad Tawfiq, Pai Paulo, Daniel Lemos, André Abramovic e Francisco Livanildo / Foto: Sthela Evaristo

Por Jaiula Alves e Sthela Evaristo

Na última quinta-feira (11), representantes de quatro tradições religiosas se reuniram para debater uma das questões mais fundamentais da humanidade: como distinguir o bem do mal? O evento, que contou com vozes da Jurema Sagrada, judaísmo, catolicismo e islamismo, evidenciou que, embora partam de bases teológicas distintas, essas tradições compartilham preocupações comuns sobre ética, responsabilidade individual e a complexidade da ação humana no mundo. O debate aconteceu no auditório do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

André Abramovic, secretário do Fórum Inter-religioso do RN e representante do judaísmo, iniciou suas reflexões destacando que a distinção entre bem e mal não é trivial. “Na tradição judaica”, explicou, “Deus se manifesta tanto pela misericórdia quanto pela severidade. Não se trata de escolher entre uma e outra, mas de buscar o equilíbrio entre ambas para exercer a justiça”. Para reforçar seu ponto, citou um princípio do Talmud: “quem pode impedir um mal e não o faz, torna-se cúmplice dele”.

Pai Paulo, dirigente da Casa de Jurema Mestra Maria Balaio, trouxe uma perspectiva ligada à natureza e às consequências dos atos. “Para nós, o bem é tudo o que gera e preserva a vida. O mal, por sua vez, é tudo o que a interrompe ou desequilibra. Ninguém pode esconder-se das consequências do que faz. Toda a ação gera uma reação, e isso é inevitável”, afirma.

Auditório 1 do Departamento de Comunicação Social / Foto: Jaiula Alves

O diácono Francisco Livanildo, da Arquidiocese de Natal e Mestre em direito pela UFRN, abordou a questão a partir da visão católica, que coloca Deus como fundamento do bem. “Já é difícil amar o próximo; amar os inimigos é uma exigência ainda mais complexa, mas constitui parte central da mensagem de Cristo. O perdão não é fraqueza; é, talvez, a maior força espiritual que podemos exercer”, reflete juntamente dos demais.

Muhamad Tawfiq, imam da mesquita Omar e palestino-brasileiro, sublinhou a importância da intenção nas ações humanas. “No Islã, acredita-se que Allah vê primeiro o coração. A ação exterior é importante, mas a intenção pura é o que verdadeiramente importa”, diz, e ressalta que, responder ao mal com mais mal não é a solução, pois o julgamento final pertence apenas à figura divina.

Ao final do evento, ficou clara a convergência em torno de três eixos: a intenção como definidora moral do ato, a responsabilidade individual perante as escolhas e a necessidade de exercer a justiça com equilíbrio – nunca com mais violência. Como sintetizou Abramovic: “Não estamos aqui para doutrinar, mas para refletir juntos. E, por vezes, ouvir o diferente é o primeiro passo para agir com mais bondade”.