Por Jaiula Alves e Sany Carvalho
Abril marca a entrada do quarto mês do ano com destaque para uma causa de grande relevância social: a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O movimento conhecido como Abril Azul tem como objetivo ampliar as discussões sobre o autismo, promovendo a inclusão e o combate ao preconceito.
No contexto educacional, compreender a experiência de estudantes com autismo no ambiente acadêmico e explorar suas perspectivas é fundamental para tornar a universidade um espaço mais acessível e confortável para seus estudos. A estudante Brenda Stefany, atualmente no segundo período de psicologia na UFRN, compartilhou um incômodo frequente: “Eu sinto que atrapalho a minha turma, por causa da luz, sinto que eles não gostam muito. Hoje, esse está sendo o meu maior desafio”, conta a discente.
Existem pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) que podem apresentar hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como é o caso da luz branca fluorescente, predominante nas salas da UFRN. Essa sensibilidade pode gerar reações diversas no comportamento, ocasionando um impacto direto na experiência desses estudantes em sala de aula.
Além da questão das luzes, há também a questão da hipersensibilidade auditiva, um desafio comum enfrentado por pessoas dentro do espectro, mas que é negligenciado. É o caso do estudante Miguel Haruki, do primeiro período de psicologia que sente uma falta de empatia dos professores e alunos em entender mais sobre o autismo. “Sinto dificuldade deles em respeitar minha sensibilidade auditiva ou outras sensibilidades. Tipo, não baterem palma ou incentivarem a bater palma numa sala de aula em que todos têm a consciência de que tem alguém com hipersensibilidade auditiva”, diz Miguel.
O burburinho de conversas, o bater de palma, ou até mesmo o arrastar de cadeiras, pode ser extremamente desconfortável para pessoas com TEA. Estímulos aparentemente simples, podem representar um obstáculo no cotidiano, que muitas vezes é visto como exagero, mas se trata de uma condição neurológica que exige compreensão.
Dentro desse cenário, também surgem exemplos de empatia e respeito. O estudante de Tecnologia da Informação, Pedro Henrique, estudou com uma pessoa que tinha hipersensibilidade auditiva e a turma se solidarizou com a colega. “O que fizemos foi basicamente evitar bater palma ou arrastar cadeiras. Claro, não é algo que a gente pensa normalmente, mas na situação em questão funcionou. Sempre nos atentamos a isso e o professor volta e meia reforçava o pedido”, relata Pedro. Esses pequenos gestos podem mudar a vivência acadêmica desses estudantes, tornando o ambiente universitário ainda mais inclusivo.
Com a popularização das redes sociais, alguns jovens acabam recorrendo ao autodiagnóstico como uma forma de explicação de suas vivências. O professor do departamento de Psicologia da UFRN e também psicólogo, Anderson Andrade, por sua vez, trouxe uma breve reflexão sobre como o TEA é tratado hoje em dia: “Existe um anseio muito grande sobre o diagnóstico, e às vezes, as pessoas usam uns termos no cotidiano sem tanto conhecimento”. Para o docente, isso deve ser encarado com responsabilidade e acompanhamento profissional.
Falar sobre o autismo é derrubar barreiras, combater estigmas e abrir caminhos para a inclusão real. Cada passo dado em direção ao entendimento é um passo rumo a uma sociedade mais justa, em que todos têm seu valor reconhecido. Por isso, lembrar que gestos respeitosos não devem ser feitos apenas em Abril mas sim ao decorrer de uma vida.