Por Nathalia Maria/Fotojornalismo
Ao aproximar-se da famosa Paróquia São João Batista, localizada na rua Manoel Coringa de Lemos, na Vila de Ponta Negra, já é possível ouvir o sonoro barulho dos bilros que atravessam o caminho de quem passa por ali. Em frente ao restaurante Tapiocaria da Vó, situado próximo a paróquia, encontram-se as Rendeiras da Vila, que não deixam a prática da renda de bilro cair no esquecimento.
Trazido para o Brasil por meio da colonização portuguesa, a prática secular da renda de bilro ganhou força principalmente no Nordeste, onde se enraizou como sendo integrante do artesanato tradicional da região. A prática requer horas árduas de trabalho puramente manual, no qual a rendeira senta-se em frente a uma almofada ajustada à sua altura e inicia o entrelaçamento dos fios presos nos bilros sobre um cartão colorido, dando forma ao material.
Para além da pesca enraizada na memória de práticas tradicionais da Vila de Ponta Negra, existem as Rendeiras da Vila, que “são parte do dia a dia da comunidade desde sua fundação há mais de 200 anos”, afirma Maria Marhé, aprendiz de rendeira e coordenadora da Associação Rendeiras da Vila. Uma das figuras mais emblemáticas da renda de bilro na Vila é Maria Lourdes de Lima, conhecida popularmente como Mestra Vó Maria, que, juntamente com o seu filho Joka Lima, uniram-se e formaram, em 1998, a Organização das Rendeiras da Vila diante dos primeiros sinais que a prática estava sendo deixada para trás com o passar das gerações. Hoje, Mestra Vó Maria tem 90 anos e ainda cede parte de sua casa para os encontros das rendeiras, que acontecem de segunda à sexta de 13h às 17h, em frente à Tapiocaria da Vó.
Filiado às Rendeiras da Vila existe o projeto chamado Zoada de Bilro, criado por Maria Marhé, com o intuito de fazer as pessoas perceberem o valor tremendo do trabalho da renda de bilro e do turismo de base comunitária que se atrela à prática. Em 2016, no projeto da Sebrae-RN, Maria Marhé idealizou a Zoada de Bilro, que consiste numa vivência voltada para o turismo de experiência, na qual uma rendeira orienta o público dentro de 40 minutos a produzir sua própria pulseira da fortuna, buscando uma maior interação e troca de experiências.
A renda de bilro representa para a Vila de Ponta Negra e para o estado do Rio Grande do Norte como um todo um valioso aporte cultural, que mesmo com a dificuldade de se manter viva a prática de rendar artesanalmente no século 21 devido a “concorrência das indústrias, a falta de valorização, preço justo e mercado para a comercialização, além da falta de interesse dos jovens em decorrência do imediatismo encontrado nos equipamentos tecnológicos”, afirma Maria Marhé, as Rendeiras da Vila contribuem com a perpetuação de práticas e conhecimentos ancestrais, impactando diretamente na história e protegendo a memória do bairro.