Sebo Cata Livros | Foto: Luiza Fonseca

Por Luiza Fonseca/Fotojornalismo

O Sebo Cata Livros, fundado em 1970 por Jácio Torres, pode ser considerado um dos pilares culturais de Natal, no Rio Grande do Norte. Em mais de 50 anos de existência, o espaço se tornou uma referência na preservação de memórias e na promoção da leitura, atravessando desafios e consolidando-se como um ponto de encontro entre gerações de leitores. Com três unidades espalhadas pela cidade, a administração do sebo é hoje compartilhada entre Jácio e sua esposa, Verônica Torres.

A história do Cata Livros teve início de forma modesta. Inspirado pelo tio Jaime, que
trabalhava em uma banca de discos, quadrinhos e livros de faroeste no bairro do Alecrim,
Jácio teve seu primeiro contato com o universo dos sebos ainda na adolescência. Após
explorar outras regiões do Brasil, ele retornou a Natal decidido a continuar o legado da
família. O que começou como uma pequena cigarreira foi crescendo ao longo das décadas,
transformando-se em um espaço diverso que reúne livros, antiguidades, discos de vinil,
máquinas de datilografia e telefones antigos.

Parte interna do Sebo | Foto: Luiza Fonseca

No entanto, a trajetória do Cata Livros foi marcada por momentos desafiadores. Um dos mais difíceis foi o incêndio que destruiu a loja da Avenida Xavier da Silveira, consumindo quase todo o acervo. Apesar do impacto, a comunidade se mobilizou para ajudar. “Recebemos doações de todos os lados, desde gibis trazidos por crianças até coleções pessoais de adultos”, relembra Verônica Torres. Essa rede de solidariedade reforçou o papel do sebo como um espaço de troca cultural e afetiva, onde leitores e colecionadores encontram muito mais do que livros.

Na fachada da unidade localizada na Avenida Prudente de Morais, a frase “Arte e
Antiguidades desde 1970” resume bem a essência do Cata Livros. Em mais de cinco décadas, o sebo não apenas resistiu às transformações do mercado, mas também se adaptou aos novos tempos. Verônica destaca a importância de preservar memórias por meio dos objetos e livros que o espaço oferece. “As crianças que visitam aqui ficam fascinadas ao ver máquinas de datilografia e telefones antigos, coisas que nunca viram antes”, comenta ela.

Diversidade de objetos vendidos no Sebo | Foto: Luiza Fonseca

Com o avanço das tecnologias, o Cata Livros encontrou na plataforma Estante Virtual uma aliada para expandir o alcance de suas obras, conectando-se a leitores de diferentes regiões do Brasil. Ainda assim, o sebo preserva a experiência do contato físico com os livros, algo que muitos leitores, especialmente os jovens, continuam a valorizar. “Hoje temos livros digitais, mas o físico sempre terá o seu lugar. E o sebo é onde as pessoas podem encontrar livros que não estão mais nas livrarias”, afirma Verônica.

Além de conectar o passado ao presente, o sebo desempenha um importante papel ambiental. Verônica enfatiza que, ao reutilizar livros, os sebos ajudam a reduzir o impacto ambiental. “Cada tonelada de papel reciclado equivale a uma árvore preservada”, explica ela, reforçando o compromisso do Cata Livros com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.

Diversidade de livros | Luiza Fonseca

O público do Cata Livros é diverso. Enquanto jovens buscam obras de fantasia e ficção,
leitores mais experientes encontram no sebo um lugar para adquirir livros raros e
colecionáveis. Muitos universitários também frequentam o espaço em busca de clássicos ou
publicações contemporâneas a preços acessíveis. Verônica comenta que é gratificante ver
jovens se interessando por livros físicos, mesmo em tempos de avanço digital.

Em 2023, o Cata Livros participou de duas edições da Feira de Sebos do RN, realizadas na
UFRN, e voltou a marcar presença no evento deste ano, em 2024. As feiras, organizadas pelo Coletivo de Sebos do RN, são vistas por Verônica como uma oportunidade para fomentar a leitura e estreitar os laços entre os sebos e a comunidade. “Essas feiras incentivam a leitura, especialmente entre os jovens, e são fundamentais para promover o nosso trabalho”, ressalta.

Sebo Cata Livros | Luiza Fonseca

Para Verônica, a essência dos sebos vai além da simples comercialização de livros. “Eu acho muito importante porque tem a possibilidade das trocas, não é só comprar. Então isso facilita a vida de muita gente. Você lê um livro e troca por outro. Para mim, os sebos são facilitadores da leitura”, conclui ela.

Entre memórias, objetos históricos e livros de todos os gêneros, o Cata Livros segue resistindo às mudanças do tempo. Mais do que um ponto de comércio, o sebo é um espaço de resistência cultural, onde o livro físico continua a ocupar um lugar especial na vida de seus frequentadores e na memória coletiva da cidade.