Imagem: Rute Souza

Por Rute Souza

O mês de novembro é marcado pelo dia nacional da Consciência Negra, celebrado no dia 20, em referência à morte de Zumbi, o líder mais notável da história brasileira, que comandou o Quilombo dos Palmares na luta pelo fim da escravidão colonial no Brasil.

É um dia criado para valorizar a identidade negra e a memória do povo preto no país, criando oportunidades para discussões sobre o mito da democracia racial, questionado por muitos ao reproduzir frases como: “Somos todos iguais, então não era pra ser o dia da consciência humana?” “Porque não existe o dia do branco?”. 

Sobre isso, a professora do curso de História, da Universidade Federal do Rio Grande, Maiara Gonçalves, destaca a apatia da população ao contestar as conquistas do povo negro. Na opinião dela, “As pessoas questionam, por exemplo, a existência de cotas raciais nas instituições públicas, mas nunca ousaram questionar o motivo da inexistência de pessoas negras em certos espaços da nossa sociedade, muito embora se tenha mais de 50% da população em nosso país se autodeclarando como negra”, argumenta a historiadora. 

Foto: Professora Maiara Gonçalves

Na Constituição brasileira está escrito que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Porém, no Brasil, a pressão e a opressão sobre as pessoas pretas em relação às pessoas brancas mostram em índices preocupantes como as primeiras são desvalorizadas. Revelando que essa igualdade, na prática, não se mostra efetiva.

Enquanto a branquitude desfruta de sua liberdade racial, uma pessoa negra é morta a cada 23 minutos no Brasil. O  relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que a chance de um jovem negro ser morto é 2,5 vezes maior do que a de um jovem branco 

É evidente que somos uma sociedade com herança escravocrata, dominada socialmente por pessoas brancas, marcando a modernidade com o preceito de que as vidas não têm o mesmo valor. Nesse sentido, fica claro o motivo da criação de um dia simbólico de conscientização dos corpos negros no Brasil. Especialmente porque foram  as pessoas pretas as escravizadas e destituídas de sua cidadania, dignidade e humanidade por mais de 300 anos, não as brancas. Foram os negros que tiveram se organizar para resistir a condições insalubres de sobrevivência. E há  quem diga que a Princesa Isabel foi a heroína que libertou os escravizados, mas na verdade é que aquele ato apenas tentou mascarar a escravidão com justificativas econômicas. 

Quando se trata de observar o cenário social em que vive a pessoa preta, notamos que a brutalidade policial tem cor, a violência política tem cor. A intolerância religiosa tem cor. Essa seletividade é cruel e precisa ser combatida.

Em abril do ano passado, uma adolescente de 16 anos, foi atacada em uma escola municipal de Joinville (SC), após mencionar ser da Umbanda, religião de matriz africana. O racismo está em todas as esferas da vida do povo negro, refletir a respeito dessa problemática é de fundamental importância para sua solução.

A professora Maiara Gonçalves ainda ressalta que Reconhecer que o Brasil foi formado principalmente por povos negros diaspóricos e povos indígenas e seus desdobramentos na formação de quem somos hoje, é o primeiro passo para o combate a discriminação racial. E reconhecer significa estabelecer políticas públicas que proporcionem melhores acessos à educação, à saúde, à segurança e ao lazer para a população negra brasileira. Significa também, tirar do silenciamento os personagens negros da história do Brasil e ter espaços nos meios de comunicação que carregam uma ideologia branca”.

Notadamente, dialogar sobre questões étnico-raciais não deve ser feito apenas em um dia, ou em um mês, mas a existência da data vem para reafirmar a importância do negro na sociedade e dar visibilidade ao tema. 

20 de novembro, é dia da consciência NEGRA, não humana.