Por Vicente Cabral
Nos dias 14 e 15 de agosto, membros da União Norte-rio-grandense de Estudantes de Direito Internacional (UNEDI) promoveram a quinta edição do UNEMUN, o Modelo das Nações Unidas da UNEDI. Realizado na sede do Ministério Público do Trabalho em Natal, o projeto possui o diferencial de ser um modelo de simulação de organizações internacionais totalmente gratuito e voltado exclusivamente para estudantes do ensino médio da rede pública.
Na ocasião, 39 estudantes oriundos do Centro Estadual de Educação Profissional João Faustino, da Escola Estadual Berilo Wanderley, do Instituto Estadual e do Instituto Federal do Rio Grande do Norte simularam o Comitê Olímpico Internacional. Atuando como representantes de comitês olímpicos nacionais, a exemplo do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Olímpico Nacional Italiano, eles discutiram o tema “Desafios para o combate ao racismo no ambiente esportivo”.
Ligado ao curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o UNEMUN, em seu formato atual, foi criado no ano de 2017 e já simulou como temas o sistema carcerário no mundo, a violência doméstica contra mulheres em situação de vulnerabilidade social e o trabalho infantil. Sem ocorrer entre os anos de 2020 e 2023 em razão da pandemia de Covid-19, voltou a ser realizado em 2024, quando abordou o papel e os desafios da polícia para a efetivação da segurança pública na atualidade, tendo como fórum de discussão o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Modelos de simulação de organizações internacionais
Nos modelos de simulação de organizações internacionais, como o UNEMUN, os estudantes são chamados a assumir funções como as de diplomatas, chefes de Estado e juízes internacionais, discutindo, negociando e decidindo, em ambiente diplomático, temas relevantes da agenda internacional, a partir da defesa dos interesses de suas delegações e de elementos como cultura, política e economia.
Como função político-pedagógica, os modelos de simulação possibilitam a integração dos estudantes e o desenvolvimento de habilidades de oratória, diálogo e disciplina, permitindo a eles melhor refletir e compreender os acontecimentos e rumos das sociedades a partir de um viés multicultural.
Para a secretária-geral da V UNEMUN e graduanda em Direito Mariana Dantas, 23, “Participar de projetos que estimulem esse protagonismo é uma coisa que realmente transforma”. Ela destacou que a transformação pessoal dos participantes ocorre “de maneira muito positiva”, na medida em que o protagonismo nos debates os permite fazer parte da tomada de decisões importantes: “Por mais que seja uma simulação, a gente se propõe a isso, a gente está ali para representar uma delegação que está disposta a poder transformar de maneira positiva aquela situação e resolver aquele problema”.

“Eles podem ter um espaço onde não só a voz deles é ouvida. É um processo onde a gente os coloca como protagonistas do próprio debate e também da própria história. Tudo começa e termina com eles. Desde a sala de aula ao debate, toda a condução da conversa, do diálogo, todas as resoluções são propostas e escolhidas por eles”, afirmou Juliana Macêdo, 25, tutora da atual edição e também graduanda em Direito. Para ela, a importância do UNEMUN está em mostrar aos alunos o valor do debate, do diálogo e da diplomacia para a resolução de conflitos, equiparando oportunidades entre alunos das redes pública e privada.
Impacto na vida dos participantes
Questionado sobre o impacto do projeto em sua vida, o estudante Matheus Soares, 19, contou que o UNEMUN despertou nele a vontade de querer aprender mais: “Quando eu fui a primeira vez, cheguei muito leigo no assunto. Mas, conforme foi passando, fui aprendendo muitas coisas sobre a delegação que eu representava, sobre outras delegações e sobre o ambiente. Como é a experiência de ser um diplomata, a experiência de formalidade”. Neste ano, Matheus participou pela segunda vez do evento.
Já Jennifer Passos, 16, estudante que, em 2025, também participou do projeto pela segunda vez, disse que “Quando o pessoal da UFRN veio trazer essa proposta, eu achei maravilhoso. O debate é uma coisa que eu amo muito. E eu não tinha muito uma linha do que eu pensava em seguir para a faculdade. Depois do UNEMUN, tive a certeza que eu gostaria de fazer Direito. É uma coisa que eu penso para o meu futuro e que eu gosto muito”.

Para o advogado Antônio Gurgel, 31, que acompanha o projeto desde sua primeira edição, o UNEMUN constrói “uma perspectiva mais popular de organização de modelos das Nações Unidas” – segundo ele, “por vezes um pouco elitistas”, em razão do valor das inscrições e dos custos de realização do evento –, dando ao jovem da escola pública a concepção “de que o horizonte dele é o mundo”.
“A gente já viu muitos alunos que não tinham perspectiva nenhuma do que fazer da universidade ou estavam achando que seus contextos de vida se limitavam a situações negativas que estavam vivendo no momento, mas que enxergaram dentro desse espaço de educação um futuro melhor. E elas conseguiram. Vi muitas que conseguiram e vejo muitas conseguindo ainda”, afirmou.
Desafios na retomada pós-pandemia
Apesar do sucesso do evento desde sua retomada no ano passado, tanto Mariana quanto Juliana destacaram alguns desafios que ainda são enfrentados pelo UNEMUN. Entre eles, está a necessidade de as pessoas conhecerem mais o projeto para que, assim, possam também contribuir com ele. Nesse sentido, ressaltaram a dificuldade de reapresentar o modelo de simulação para as instituições de ensino, especialmente em razão das frequentes mudanças de gestão das escolas, e de arrecadar recursos, notadamente por meio de patrocínio.
“O UNEMUN acontece por meio de bolsa. Então, além da isenção de taxa, todos os alunos que participam recebem um ‘kit delegado’ contendo materiais para uso durante a simulação. Eles recebem o café da manhã, o almoço e o lanche da tarde também concedidos pela gente, além do transporte e de outros materiais que usamos durante a simulação para que essa experiência seja a melhor. Tudo isso tem um custo financeiro que é muito alto e nem sempre a gente consegue gratuitamente ou com um preço bom”, contou Juliana.
“Está muito bom, mas a gente sempre pode deixar que tudo fique ainda mais perfeito para a experiência deles ser melhor”, completou.