Decorações com as cores do arco-íris representando a bandeira LBGT | Foto: Leandro Alves

Por Leandro Alves/Fotojornalismo

A Zona Norte de Natal, região mais populosa da capital potiguar, enfrenta uma
carência histórica de espaços dedicados à cultura e ao lazer, afetando especialmente a
juventude e a população LGBT. Na falta de centros culturais estruturados ou políticas
públicas voltadas para essa demanda, essas pessoas acabam se deslocando para outras
regiões da cidade em busca de ambientes mais seguros, acolhedores e divertidos.

A ausência desses espaços tem impacto direto na construção da identidade e no
pertencimento, de jovens moradores da zona norte que enxergam na cultura e no lazer, não apenas uma forma de passar o tempo, mas de se expressar livremente e lutar por uma vida melhor. Para a população LGBTQIA+, a falta de lugares seguros e inclusivos aumenta
vulnerabilidades, expondo esse público a riscos de violência e discriminação em espaços
que podem não estar preparados para lidar da maneira correta.

Deslocamento e exclusão

Para acessar opções de cultura e lazer mais inclusivas, a juventude da Zona Norte
precisa atravessar uma das pontes sob o Rio Potengi em direção à Zona Sul ou outras
áreas mais centrais de Natal, onde há maior oferta de bares, eventos e espaços culturais.
Porém, esse deslocamento representa um desafio financeiro e logístico que na prática se
torna restritivo, pois estamos falando de pessoas que dependem do péssimo serviço de
transporte público ofertado em Natal.

“Os eventos voltados para o público LGBT geralmente acontecem no Centro e na Ribeira.
Para quem mora na ZN, isso significa pegar ônibus tarde da noite, enfrentar a falta de
segurança e gastar mais com transporte, pois dependendo do horário nem linha de ônibus
roda”, explica Pedro Henrique Aguiar, 25 anos, estudante da UFRN e morador do bairro
Igapó.

Iniciativas e resistência

Apesar das dificuldades, algumas iniciativas buscam preencher esse espaço. É o caso do
Babado’s Bar, que promove eventos no próprio estabelecimento, localizado próximo a praça
da escola municipal Iapissara Aguiar, no conjunto Santa Catarina, Zona Norte de Natal.

José Carlos Rocha da SIlva, 49 anos, dono do Babado’s Bar | Foto: Leandro Alves

Entre um atendimento e outro, José Carlos Rocha da Silva, 49 anos, conta sobre sua experiência, os desafios enfrentados e possíveis melhorias. O Babado’s
Bar nasceu em maio de 2022 e o nome foi uma ideia do atual companheiro de Carlos, e ele conta de forma entusiasmada os eventos que já realizou no local e como gostaria de poder
fazer mais. “O Babaloween (festa de halloween) e a Ballroom (evento cultural LGBTQIA+
com performances e competição) são exemplos de como é possível realizar ações proveitosas em termos de cultura e lazer para a juventude da periferia e toda comunidade
LGBT na ZN. Inclusive sem receber apoio do poder público.” destaca Cesar.

Falta de atenção e políticas públicas

No entanto, a falta de infraestrutura adequada e apoio institucional ainda são entraves para
a continuidade dessas ações. Poda das árvores, pintura, manutenção das calçadas, troca
de lâmpadas da iluminação pública, são alguns dos pontos citados como falta de atenção
da administração municipal e que se fosse resolvido já ajudaria muito, pois traria benefícios
a todos que passam por lá. “Seria muito bom se a prefeitura resolvesse isso, somente
ajeitar a iluminação já aumentaria o fluxo de pessoas que passam aqui durante a noite e se
houvesse incentivo para que esses e outros eventos inclusivos acontecessem aqui nesse
ponto central da ZN, tenho certeza que seria um sucesso ainda maior.” diz o proprietário
do bar.