Por Luiza Fonseca/Fotojornalismo
A fachada atual do Sebo Rio Branco reflete a história de um espaço que, há décadas, ocupa um lugar especial na vida cultural de Natal. Com sua entrada simples, marcada pelo tom
verde que substituiu o azul de anos atrás, o sebo se apresenta como um refúgio de histórias, conhecimento e encontros. Fundado por Ronaldo Gurgel Diniz, o espaço se consolidou não apenas como um ponto de venda de livros usados, mas como um elo entre gerações de leitores que, muitas vezes, encontraram ali o ponto de partida para suas jornadas acadêmicas e profissionais.
A história do Sebo Rio Branco começou de forma despretensiosa, como revela o próprio
Ronaldo Gurgel. Inicialmente, ele trabalhou com bancos de revistas novas, até que o irmão sugeriu a venda de livros usados, inspirado em sua própria experiência no ramo. “No começo, eu não fazia ideia do que era um sebo”, relembra Ronaldo, com um sorriso discreto que reflete as incertezas de quem, na época, sequer sabia se aquele era o caminho certo. A aposta, contudo, deu certo. Com a compra de um lote inicial de livros, ele deu início a uma trajetória que, ao longo de 40 anos, se transformou em um dos nomes mais conhecidos desses segmentos em Natal.
De uma pequena banca de revistas à loja na avenida Rio Branco, o crescimento foi gradual, mas constante. “Acho que estamos aqui há uns 12 ou 15 anos”, calcula Ronaldo, enquanto reflete sobre os desafios enfrentados para sustentar o negócio. A mudança para o espaço foi uma necessidade imposta pela crescente clientela e pelo aumento do acervo, que hoje contempla desde gibis colecionáveis até títulos acadêmicos raros. Cada livro que passa por suas mãos é avaliado cuidadosamente, levando em conta sua relevância e o interesse do público. “Tem livro que já não atende ao mercado, então a gente coloca preços bem baixos”, explica, mencionando os exemplares famosos a R$1,99 que conquistaram tantos clientes ao longo dos anos.
Entre os frequentadores do Sebo Rio Branco, as histórias se acumularam e se entrelaçaram. Ronaldo narra com emoção o caso de Thiago, um pesquisador que adquiriu mil livros em suas visitas ao local. “Ele chegou aqui um dia e disse: ‘Esse é o milésimo livro que eu compro de você’”, relembra, emocionado com o impacto de sua loja na vida do cliente. Outro relato marcante é o de um ortodontista que, muitos anos depois, revelou ter financiado sua formação comprando livros baratos no sebo. Esses episódios mostram como o espaço transcende sua função comercial, tornando-se um instrumento de transformação social e educacional.
A modernização, que poderia ser encarada como um obstáculo, foi vista por Ronaldo como uma oportunidade. Ele aproveitou a internet para expandir seu alcance, utilizando
plataformas como a Estante Virtual para alcançar leitores fora de Natal. Apesar disso, o movimento presencial ainda predomina, sustentado por um público fiel que valoriza o contato direto com os livros e o ambiente acolhedor que só um sebo pode oferecer.
Questionado sobre o significado de Sebo Rio Branco, Ronaldo reflete por um instante antes
de responder: “Aqui é um lugar onde a gente distribui cultura e informação. Médicos,
dentistas e tantos outros se formaram comprando livros aqui”. E, de fato, o Sebo Rio Branco é muito mais do que um comércio. É um espaço onde as histórias ganham novas vidas, onde os leitores se encontram e onde a paixão pelos livros continua a pulsar, página após página.