
Por João Tobias e Heloisa Brito
Antes mesmo de aprender a segurar um microfone, o repórter potiguar Mark Figueiredo, de 38 anos, já sabia exatamente onde queria estar: no meio da notícia. “Eu sempre tive interesse na área de comunicação, desde criança”, recorda. Fascinado pela velocidade das redações e pela magia de transformar acontecimentos em histórias, o potiguar trilhou um caminho que começou nos corredores da UFRN, passou pelo subsolo da Penitenciária de Alcaçuz e hoje o coloca diariamente diante de casos que repercutem em todo o Brasil.
A escolha pelo jornalismo não foi óbvia para a família, mas foi para ele. Por pressão familiar, chegou a tentar Direito. “Prestei vestibular para direito, mas não passei”, conta.
Não havia jornalistas na família, mas havia sinais de que aquele seria seu caminho. A mãe assinava o Jornal Hoje, um jornal impresso da época. Ainda criança, Mark visitou a redação desse jornal. “Fiquei fascinado pela correria da redação”, relembra. Foi ali que ele se viu, pela primeira vez, como repórter. O encantamento só cresceu quando conheceu o livro O que é ser jornalista, de Ricardo Noblat, um dos nomes que mais o influenciaram, junto de Pedro Bassan e Caco Barcellos, no qual ele disse ser suas referências na profissão. “Por causa de um trabalho que a Socorro Veloso passou na disciplina dela, eu li o livro do Caco, o Rota 66 e gostei bastante. Tenho até hoje o livro aqui “, relembra.
Anos depois, Mark viveu a cena impensável para o jovem estudante que devorava histórias de Caco: “É muito louco. O cara que era minha referência, hoje em dia somos colegas de profissão e eu tive a oportunidade de fazer uma cobertura com ele de igual pra igual” relembra.
Com a experiência acumulada em diferentes funções, Mark faz questão de destacar a diferença entre o estúdio e a rua. Para ele, o estúdio é um ambiente controlado, frio, onde o domínio do assunto facilita a comunicação. Já a rua é imprevisível. Exige preparo emocional e técnico, capacidade de lidar com imprevistos e concentração absoluta. “Na rua você precisa estar preparado para tudo. Barulho de trânsito, alguém passando, uma senhorinha pedindo informação enquanto você está ao vivo. Você não pode perder a concentração para passar a notícia”, explica.

Mergulho no jornalismo.
Mark não esperou o diploma para começar. No segundo período da graduação entrou como repórter na Band Natal. Tímido, inexperiente e, segundo ele mesmo, sem saber segurar um microfone corretamente, mergulhou na prática diária da profissão. Depois vieram TV Tropical, TV Ponta Negra e, mais tarde, a Inter TV Cabugi, onde trabalhou de 2014 a 2019.
Foi na Cabugi que viveu a cobertura que considera um divisor de águas. “Uma das coberturas mais marcantes que eu fiz em Natal foi quando os agentes penitenciários descobriram um túnel embaixo do pavilhão um”, relembra. Ele não só esteve no local, como entrou no túnel. “Entrei no calor da emoção. O risco daquilo desabar era muito real. O diretor me deixou entrar, mas 15 minutos depois a entrada foi proibida. Foi um grande furo de reportagem”. A imagem dele caminhando sob o presídio se espalhou por toda a rede Globo e o fez entrar em todos os portais de reportagem da emissora com aquela notícia.
O primeiro emprego de Mark, foi em um portal de esportes que surgiu na época. “Eu saía de casa e ia para o Frasqueirão, ou para o CT do América acompanhar os treinos dos jogadores. Acontecia frequentemente de eu ter que ir para os dois lugares no mesmo dia”, comenta.
Mark relembra as condições de trabalho “Eu ganhava R$: 50,00 de ajuda de custo para pagar meu ônibus”, depois disso, novas oportunidades foram surgindo e sua carreira foi sendo alavancada.

Depois de cinco anos na Inter TV, Mark tomou a decisão que mudaria os rumos da carreira: tentar espaço em São Paulo. Chegou à capital em meio à dúvida interna que, como ele diz, era mais psicológica que real: “Um desafio que eu tinha muito dentro de mim era provar que eu era capaz. Eu fazia jornalismo regional, local… e agora estou numa cabeça de rede.”
A adaptação foi dura. Ao entrar na Band SP, seu primeiro trabalho foi como editor no turno da madrugada. “Meu turno era das 23h às 7h, eu chorava todos os dias por não estar me adaptando. Pensei até em desistir”, admite. Mas insistiu, algo que fez em toda sua carreira, e acabou permanecendo. Pouco tempo depois começou a aparecer diante das câmeras, primeiro no Primeiro Jornal, depois no Bora São Paulo, Bora Brasil e, atualmente, no Brasil Urgente.
E se havia preocupação em se igualar aos profissionais de rede, essa sensação se dissipou com o tempo: “Quando você percebe que tá de igual pra igual, vê que no final das contas é o mesmo exercício da função: noticiar”. O peso, porém, é maior. Não pela função, mas pela dimensão de São Paulo. “Uma notícia que tá aí em Natal e merecia ter repercussão nacional não tem. Mas se a mesma notícia acontece em São Paulo, ganha uma semana de mídia. Tudo aqui é muito macro”, explica.
O que move o repórter
Se existe uma editoria capaz de tirar Mark da zona de conforto, é a política. Embora seu primeiro emprego em São Paulo tenha sido na TV Assembleia, trabalhando diretamente com assuntos institucionais, ele reconhece que esse universo é muito diferente da política em TV aberta. Para ele, cobrir política exige sensibilidade, percepção e um tipo de preparo que só se adquire com experiência. “Você precisa ter feeling”, afirma.

Apesar disso, Mark revela que seu verdadeiro prazer jornalístico está em outro lugar. “O que eu mais gosto de fazer são matérias comportamentais. Eu gosto de chegar, observar e escrever sobre o que observei.” É nesse tipo de reportagem que ele encontra espaço para enxergar detalhes, captar histórias e transformar cotidianos em narrativa.
Quando instigado sobre o que diria para às focas, Mark não hesita. A insistência, que sempre o acompanhou, vira conselho. “Tenha foco, vá atrás, estude, bata na porta, insista, leve um não, insista de novo.”




