Por Fabrício Feitosa

Vanessa no Emirates Training College Building C Por: arquivo pessoal
Vanessa Araújo, potiguar e ex-comissária da Emirates, vive há sete anos em Dubai. Hoje, formada em Recursos Humanos, compartilha sua experiência na aviação, através da sua escola, a Aeronessa Academy. Nesta entrevista ping-pong, ela fala sobre carreira, rotina e os bastidores de voar pelo mundo.
Ela operava o Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo e o Boeing 777 o maior bimotor do mundo. Hoje, Vanessa mora em Dubai com seu marido Pedro e sua filha Marina Hayat. O marido Pedro é comissário da empresa Flydubai.
Quem era a Vanessa antes da aviação?
Antes da aviação, eu era uma jovem sonhadora, mas extremamente determinada. Cresci em uma realidade simples, onde era preciso batalhar para conquistar cada oportunidade. Desde cedo, aprendi que disciplina, dedicação e foco eram não apenas escolhas, mas ferramentas para transformar sonhos em realidade. Nunca me vitimizei diante das dificuldades — eu acreditava que, se eu corresse atrás dos meus objetivos com determinação, foco e dedicação não haveria limite para onde eu poderia chegar.
Qual foi o primeiro passo que você deu rumo a esse sonho?
O primeiro passo foi aprender inglês do zero sozinha, sem curso, sem professor. Cada hora de estudo era uma ponte construída entre mim e o meu futuro. Saber inglês era o mínimo necessário para viver o que eu desejava, então transformei esse desafio na minha rotina. Usei o que tinha, estudei como podia e, aos poucos, o idioma que antes parecia distante se tornou o meu maior aliado.
O que você acha que realmente fez diferença para sua aprovação?
Preparação estratégica, sem dúvidas. Não apenas treinei respostas e postura, mas alinhei comportamento, inteligência emocional e presença, tudo voltado para os valores e cultura da companhia. Minha aprovação não foi sorte: foi resultado de estratégia, autenticidade e preparo emocional.
Qual foi seu voo mais marcante?
Nova York, sem dúvida. Não foi só um destino — foi a materialização de um sonho. Aquela cidade que foi cenário de tantos filmes e séries que marcaram a minha infância e adolescência, de repente estava diante de mim, iluminada, pulsante e real. Lembro de olhar a Times Square pela janela do hotel e pensar: “Eu realmente consegui, eu estou aqui.” Foi um marco emocional e profissional.
Por que criar o AERONESSA?
Quando entrei na Emirates, comecei a compartilhar meu dia a dia no Instagram, e os seguidores começaram a pedir para criar um canal no YouTube. Nunca esteve nos meus planos criar um canal no YouTube, mas resolvi atender os pedidos e assim nasceu o Aeronessa.
O nome é uma fusão de “aeromoça” e “Vanessa”, representando minha trajetória e minha identidade.
Hoje, ver tantas pessoas conquistando vagas na Emirates e em outras companhias, e receber mensagens agradecendo pela minha contribuição nesse caminho, é profundamente gratificante. É saber que aquilo que um dia foi o meu sonho agora serve de combustível para o sonho de outras pessoas.
O vídeo que mais te surpreendeu em alcance?
Curiosamente, não foi um vídeo sobre aviação. Foi o vídeo em que contei sobre minha pausa nas redes sociais. Ele viralizou com mais de 250 mil visualizações porque tocou em algo que muitos sentem: a necessidade de desacelerar e de priorizar a saúde mental. Mesmo vivendo uma vida que parece perfeita aos olhos de quem vê de fora, cheia de viagens e momentos incríveis, eu precisava de equilíbrio. E esse vídeo mostrou que humanidade conecta mais do que glamour.
A maior lição que aprendeu ao produzir conteúdo?
Que “feito é melhor do que perfeito” e que a vida real sempre deve vir antes da vida online. Depois da minha pausa, passei a usar as redes com muito mais consciência: minha família é minha prioridade absoluta, e qualquer coisa que não esteja alinhada a isso vem depois. Produzir conteúdo é importante, mas preservar minha sanidade mental e minha autenticidade é essencial.
Como você enxerga o impacto do seu canal na vida de quem sonha em ser comissário?
É um orgulho enorme saber que meu conteúdo inspira e transforma trajetórias. O Aeronessa não é apenas um canal; é uma ferramenta de acesso, orientação e confiança. Ver pessoas saindo de diferentes lugares do Brasil e do mundo e conquistando suas vagas, muitas vezes me dizendo que começaram a acreditar nelas mesmas por causa dos meus vídeos — isso é impagável.
Por que a transição para Recursos Humanos?
Ser comissária de voo foi uma das experiências mais ricas e transformadoras da minha vida, mas sempre entendi que a aviação, por mais extraordinária que seja, não é uma carreira linear ou vitalícia para a maioria dos profissionais. Eu buscava um caminho que unisse meu propósito com meu perfil: pessoas, desenvolvimento e impacto direto na trajetória de alguém.
A área de Gestão de Recursos Humanos surgiu como a extensão natural dessa vocação. Ela me permitiu transformar toda a bagagem adquirida nos céus — maturidade emocional, visão global, comunicação refinada e capacidade de lidar com diferentes perfis — em algo estrutural: ajudar outras pessoas a conquistarem oportunidades e se posicionarem estrategicamente no mercado. Foi um movimento planejado, consciente e alinhado com meu futuro.
A maior habilidade que a aviação te deu e que você usa no RH?
Sem nenhuma dúvida: atenção a detalhes — e não apenas no sentido técnico, mas estratégico.
Na aviação, o comissário de voo vive em estado de alerta inteligente. Cada detalhe importa: desde os procedimentos de segurança até a capacidade de oferecer um serviço de excelência, antecipando necessidades e solucionando situações antes que se tornem problemas.
Hoje, como Mentora e Especialista em Recrutamento e Seleção, utilizo essa habilidade de forma ainda mais aprofundada. Ela está presente na análise minuciosa de currículos, na identificação de competências que muitas vezes o próprio candidato não consegue enxergar, no estudo detalhado das empresas para alinhar perfis, e na construção de estratégias personalizadas para cada aluno. É esse olhar técnico e apurado que transforma um candidato comum em alguém realmente competitivo.
Como conheceu seu marido?
Nos conhecemos trabalhando no call center da Riachuelo. Ele era supervisor, eu operadora, e logo descobrimos que dividíamos o mesmo sonho: ele queria ser piloto, eu queria ser comissária. O destino foi generoso — hoje, ele também é comissário, e compartilhamos não apenas a vida, mas o mesmo universo profissional, o que fortalece nossa conexão e compreensão mútua.
O que é mais legal no fato de ele ser comissário também?
Falamos a mesma língua — literalmente e profissionalmente. Entendemos a rotina, os desafios, as ausências, os horários e a intensidade da aviação. Isso cria uma conexão muito mais forte e nos permite viver experiências que enriquecem a vida a dois.






