Por Jaiula Alves e Sthela Evaristo
Realizada no Centro de Convivência Djalma Maranhão, dentro do campus da UFRN, a feira mensal Ecoarte desafia conceitos tradicionais de consumo e demonstra que é possível unir educação ambiental, geração de renda e cuidado emocional.
Em uma iniciativa que vai muito além da simples comercialização de produtos, trata-se de um projeto de extensão que une ecologia e arte por meio da reutilização criativa de materiais. Os produtos são confeccionados a partir de práticas sustentáveis, resultando em bolsas de retalhos, bonecas de pano, escoradores de porta, peças de madeira, plantas e acessórios.
Entre os principais objetivos do projeto, destaca-se a valorização e visibilidade dos produtos ecofriendly, aqueles que não agridem a natureza. Além da inclusão de comunidades de diferentes regiões do Rio Grande do Norte, já que artesãos de várias cidades participam da Ecoarte, e a conscientização sobre o impacto ambiental dos produtos que não passam por processos de reutilização. O projeto também busca promover a reflexão individual sobre o cuidado com o planeta e fortalecer os laços afetivos entre os participantes.

A coordenadora do projeto, Marjorie Medeiros, explica que a iniciativa começou em 2005 como “Eco Sábado” no Departamento de Artes, e migrou para o Centro de Convivência em 2009. “Passou a se chamar ‘Cexta Ecológica’, sexta com C de consciência, mas o nome era grande e difícil. Ecoarte é simples, e todo mundo aprende”, conta.
Ao longo dos anos, a feira consolidou-se como espaço de valorização do trabalho manual, onde segundo Marjorie, “sustentabilidade sem afetividade não é sustentabilidade”.

Entre as muitas histórias de transformação, a artesã Maria de Lourdes Souza Teixeira, de 81 anos, compartilha sua trajetória. “A doutora mandou que eu fizesse uma atividade em casa quando cuidava da minha mãe doente. A única coisa que pensei foi em uma boneca”, relembra.
Dez anos após o falecimento da mãe, Maria dá continuidade ao ofício, agora com ajuda da filha: “Como minhas mãos tremem, ela faz os olhos das bonecas e já produz os gatinhos de pano sozinha”, ela relata que fazer sua arte com amor e ver pessoas reconhecendo isso faz ela se sentir feliz e importante.

Para Nadja Nara Aires, o artesanato representou um recomeço após a aposentadoria. “Caí na depressão. O artesanato leva para mundos diferentes, onde você não fica ansiosa e sempre tem ideias novas”, relata. “É minha diversão e terapia.“
A UFRN oferece espaço e transporte para mesas e cadeiras, mas os artesãos enfrentam desafios de infraestrutura. Segundo Marjorie, faltam tomadas para ventiladores, o que torna o ambiente quente, também é notável a falta de uma boa iluminação. Quando o transporte institucional não está disponível, os próprios expositores organizam uma vaquinha para cobrir emergências.
A feira tornou-se uma rede de apoio, conforme coordenadora, “quando necessário, organizamos rifas para ajudar uns aos outros”. Até mesmo um músico se voluntariou para apresentar-se, criando um ambiente acolhedor para todos.
O maior legado do Ecoarte está na ressignificação do que para muitos é tido como lixo e a valorização da arte. “Lixo não existe, tudo pode virar matéria-prima para arte e cultura”, afirma Marjorie. Também demonstra como o conhecimento ecológico chegou até os colaboradores da feira. “Hoje, qualquer participante sabe explicar o que é sustentabilidade e por que o seu produto é ecológico” comentou.
Mais do que um evento de comercialização, a feira representa a união de pessoas que encontraram na arte uma forma de ressignificar suas dores, cultivar esperanças e construir uma comunidade baseada no afeto e no apoio mútuo, provando que o trabalho manual pode servir como apoio financeiro e emocional.
A Ecoarte ocorre mensalmente, regularmente durante a última semana do mês, no Centro de Convivência da UFRN, das 8h às 15h, com entrada gratuita. Estudantes podem obter certificação de horas pela Proex.







