Por Giovanna Dubiniak
O Setembro Amarelo é uma campanha criada para prevenção e conscientização do suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 720 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos. Infelizmente, essa ainda é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos — uma faixa-etária que ainda não teve a oportunidade de viver plenamente sua vida. Por isso, a campanha busca quebrar o tabu em torno do tema, informar sobre sinais de alerta, métodos de prevenção e a importância do apoio de profissionais especializados.
A história por trás da campanha que salva vidas
A origem do Setembro Amarelo remonta aos Estados Unidos, na campanha conhecida como Yellow Ribbon (Laço Amarelo). Em 1994, o jovem Mike Emme, de apenas 17 anos, cometeu suicídio. Mike era inteligente e talentoso; um de seus hobbies era restaurar automóveis, e ele pintou um Mustang 68 de amarelo. Ficou conhecido como “Mustang Mike”. Apesar de seu talento e carisma, ninguém percebeu que ele enfrentava problemas psicológicos, e sua morte não pôde ser evitada.
No dia de seu velório, amigos distribuíram cartões com fitas amarelas e mensagens como “Se você precisar, peça ajuda”. Essas pequenas ações alcançaram pessoas em sofrimento e marcaram o início do símbolo do laço amarelo, representando a luta contra o suicídio. Em 2003, a OMS instituiu o 10 de setembro como Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, a campanha chegou em 2013, quando Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), oficializou a inclusão no calendário nacional, e, desde então, a ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), divulga a campanha todos os anos.
O retrato do suicídio no Brasil e no mundo
Os dados mais recentes do Ministério da Saúde, divulgados em setembro de 2022, mostram um aumento preocupante entre jovens. Entre 2016 e 2021, as taxas de mortalidade por suicídio aumentaram 49,3% entre adolescentes de 15 a 19 anos, alcançando 6,6 por 100 mil, e 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil. No Brasil, os números por gênero mostram diferenças importantes: 12,6 homens a cada 100 mil morrem por suicídio, contra 5,4 mulheres a cada 100 mil. Em países de alta renda, a taxa entre homens é geralmente mais elevada (16,6 por 100 mil), enquanto entre mulheres os índices mais altos estão em países de baixa e média renda (7,1 por 100 mil).
Comparações internacionais mostram tendências diferentes: em países da Europa, houve declínio nas taxas, enquanto aumentos foram observados no Leste Asiático, América Central e América do Sul. Apesar de alguns países priorizarem a prevenção, apenas 38 têm estratégias nacionais de prevenção ao suicídio.
Alerta vermelho: comportamentos que não podem ser ignorados
Entre os fatores de risco mais relevantes estão:
- Tentativa prévia de suicídio: quem já tentou tem cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente; estima-se que 50% das pessoas que se suicidaram já haviam tentado antes.
- Doenças mentais não tratadas: depressão, transtorno bipolar, alcoolismo, abuso de substâncias e dependência química são fatores que aumentam o risco.
Outros sinais de alerta incluem sentimentos de desesperança, desamparo e impulsividade. A combinação desses fatores, especialmente em jovens, pode ser letal. O suicídio entre idosos também merece atenção, muitas vezes associado à solidão, perdas significativas e doenças crônicas.
Estudos indicam diferenças de gênero: homens cometem mais suicídios, enquanto mulheres realizam mais tentativas. Fatores familiares, sociais e comportamentais também são determinantes na vulnerabilidade.
A linha de frente da prevenção
Profissionais de saúde mental desempenham um papel crucial. Psicólogos oferecem acolhimento, escuta ativa e intervenções terapêuticas, ajudando os pacientes a lidar com emoções complexas. Psiquiatras realizam diagnósticos, prescrevem medicamentos e acompanham clinicamente, garantindo tratamento adequado e monitoramento contínuo.
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza serviços gratuitos em todo o país. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) atendem pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, oferecendo acompanhamento, reabilitação e suporte. As Unidades Básicas de Saúde (UBS) funcionam como porta de entrada para o sistema, realizando triagens, encaminhamentos e acompanhamento contínuo.
Como família, escola e comunidade podem salvar vidas
A prevenção envolve ação conjunta em diferentes níveis. Individualmente, é possível manter o diálogo aberto, oferecer apoio emocional e incentivar a busca por ajuda profissional é essencial. As famílias podem criar um ambiente de escuta, compreensão e cuidado, fortalecendo vínculos e segurança.
Escolas, universidades e comunidades podem promover atividades que incentivem integração social, campanhas educativas e grupos de apoio. Instituições de saúde e organizações sociais têm papel fundamental na identificação de sinais de risco e no encaminhamento adequado. A colaboração entre diferentes setores é essencial para reduzir o impacto do suicídio e salvar vidas.
Canais de acolhimento: onde encontrar apoio imediato
Para quem enfrenta momentos de crise, buscar ajuda é o passo mais importante. Entre os canais disponíveis estão:
CVV – Centro de Valorização da Vida
- Telefone: 188
- Chat online: cvv.org.br
- Horário: Telefone 24h; Chat: Dom 17h-01h | Seg-Qui 09h-01h | Sex 15h-23h | Sáb 16h-01h
- Serviço: Acolhimento emocional gratuito e sigiloso, prevenção do suicídio
CAPS – Centros de Atenção Psicossocial
- Contato: Pelo SUS ou unidade local
Serviço: Atendimento para pessoas com transtornos mentais graves, acompanhamento terapêutico e social, acolhimento em crises
UBS – Unidades Básicas de Saúde
- Contato: Local da residência
- Serviço: Triagem, acompanhamento emocional e encaminhamento para serviços de saúde mental
SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
- Telefone: 192
- Serviço: Atendimento em situações de risco de vida iminente, incluindo tentativas de suicídio
“Ouvir, acolher e oferecer apoio pode salvar uma vida, seja a diferença que alguém precisa hoje.”