Charge por Anderson Oliveira

Por Anderson Oliveira 

   É de praxe que a qualidade de vida  dos trabalhadores do nosso país não se  adequa a  nossa sorte de viver em um país tão naturalmente belo; pelo contrário, nossa existência, enquanto trabalhadores , é objetivamente prejudicada pela falta de tempo para degustar dessa própria existência. Me pergunto o motivo da dificuldade de permitir aos indivíduos que construíram e vem construindo esse país de ponta a ponta alguns míseros dias de descanso? Me pergunto quais são as reais vontades intrínsecas dos econômicos burocratas que insistem na manutenção desse sistema de escravidão moderna… Bom, eu não sou o cara das respostas concretas, me sinto mais a vontade nas indagações; deixarei, portanto, o leitor chegar às suas próprias conclusões. 

    Diante desse cenário de guerra entre aqueles que necessitam de tempo de vida e aqueles os quais, da vida, tem muito tempo e por isso tiram proveito da vida alheia, é uma honra escrever em pró de um plebiscito popular feito por e para quem necessita de vida. Serei mais radical – e por radical, com as minhas facilidades de escritor, entendam radical através das palavras – , sugiro que mudemos o nome do plebiscito para “ plebiscito da vida” ou “ plebiscito da existência” , qualquer um que se adeque aos requisitos linguísticos de cada leitor – para que as nossas vontades estejam postas à mesa e consistentemente claras: queremos tempo e recursos para a vida , para a existência; necessitamos de abundância de memórias, de ócio, do tédio e das qualidades que só os dias de folga podem proporcionar.  

     O tempo não pode ser privilégio, o tempo não deve ser escasso para alguns – e aqui estou dando uma resposta concreta ao leitor , contradizendo a minha própria natureza questionadora.  No entanto, ainda me ponho a perguntar os reais motivos de ainda estarmos anos atrasados no debate sobre a existência; por que só alguns têm o direito do tempo de pensar, de ir ao cinema, de frequentar o teatro, de produzir  poesia? Por que precisamos sempre ter que lutar e acabar com as nossas vozes com tantos gritos para que os nossos representantes finalmente nos representem? 

    Ser e estar e, ao mesmo tempo, não ser (sim, isso também é uma possibilidade)  são as mais importantes faculdades da existência, o leitor precisa entender, e por mais difícil que seja, que não somos apenas o que trabalhamos. Somos também, mas o ser carrega consigo uma complexidade colossal, a qual apenas pode ser sentida quando há tempo, quando há vida.  Sejamos todos a favor da vida , neste momento, ponhamos nossos olhos no plebiscito que permitirá essas qualidades tão necessárias aos trabalhadores. Tão necessárias à qualidade de existir.