Por Bruno Barros e Pedro Sarmento/Fotojornalismo
A Praia de Ponta Negra, um dos cartões-postais de Natal, RN, enfrenta há anos um processo de erosão que ameaça a faixa de areia e o cotidiano da comunidade local. Com o objetivo de mitigar esses efeitos e ampliar a área da praia, a prefeitura da cidade planeja uma obra de “engorda” da praia, que consiste na adição de sedimentos para aumentar a extensão da areia.
O projeto, que promete transformar a paisagem costeira, vem sendo alvo de debates acalorados, envolvendo questões ambientais, sociais e econômicas. Por um lado, a obra é apresentada como uma solução necessária para enfrentar os desafios da erosão e garantir a sobrevivência das atividades turísticas e comerciais na região. No entanto, críticas surgem quanto à falta de diálogo com a população afetada e à transparência em relação aos impactos potenciais.
Um dos principais pontos de preocupação é a sustentabilidade do projeto a longo prazo. A adição de sedimentos pode resolver temporariamente o problema da erosão, mas há dúvidas sobre sua eficácia contínua, considerando que a ação das marés e outros fatores naturais podem rapidamente desgastar os resultados da intervenção. Além disso, o projeto pode alterar significativamente o ecossistema local, com possíveis impactos na fauna e flora costeira.
Socialmente, o projeto de “engorda” da praia levanta questões sobre o futuro dos trabalhadores que dependem da praia, como pescadores, comerciantes e barraqueiros. Durante a obra, é provável que esses grupos sejam temporariamente afastados de suas atividades, sem garantias claras de compensação ou realocação. Essa incerteza gera receios sobre a viabilidade econômica da população que depende diretamente da praia para sua subsistência.
Além disso, o projeto é visto por alguns como uma tentativa de “higienização social” da orla, promovendo uma urbanização que privilegia o turismo de luxo e a especulação imobiliária, em detrimento dos moradores locais. A verticalização e a ocupação intensiva da orla podem transformar a dinâmica social e econômica da região, ampliando as desigualdades e dificultando o acesso à praia para as camadas mais populares da população.
Em meio a essas controvérsias, a necessidade de uma gestão urbana responsável e participativa torna-se evidente. A discussão sobre a “engorda” da Praia de Ponta Negra reflete a complexidade de se equilibrar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e justiça social em uma cidade marcada por contrastes. O futuro da praia, e dos que dela dependem, está em jogo, e a decisão que se toma agora terá consequências duradouras para a paisagem e a vida dos natalenses.