Por Rebeca Souza
Dois realizadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) ganharam premiação na Mostra de Cinema de Gostoso. A 6ª edição do Festival exibiu 35 filmes, entre longas e curtas-metragens, nas sessões de mostras competitivas, infantis, panorama, especiais e curtas realizados pelo Coletivo Nós do Audiovisual, a partir de oficinas com os moradores da cidade.
O longa-metragem “Fendas”, com direção de Carlos Segundos – professor do curso de Audiovisual da UFRN – ganhou menção honrosa no Troféu Luís da Câmara Cascudo e o curta-metragem “Júlia Porrada”, com direção de Igor Ribeiro – estudante de Audiovisual da UFRN – ganhou na categoria de melhor filme do Coletivo Nós do Audiovisual. A cidade foi presenteada por uma exibição gratuita, com direito a uma tela gigante e 600 espreguiçadeiras. Cerca de 700 pessoas tiveram a experiência de assistir, sob a lua cheia e com os pés na areia da praia, filmes realizados em todo Brasil. Na ocasião, foi exibida uma sessão especial de Bacurau, na presença do diretor Juliano Dornelles e a atriz Karine Teles.
Com uma extensa programação, a 6ª Mostra conteve não só exibições de filmes, mas também oficinas, seminários e, pela primeira vez, o Gostoso Lab, que organizou o laboratório para projetos de longa-metragem em fase de desenvolvimento, voltado aos realizadores do Rio Grande do Norte. Os alunos de Audiovisual da UFRN, Felipe Rocha e Ricardo Nunes, levaram seu projeto “Reflexo” para o laboratório e realizaram um pitching (defesa oral da produção do filme) para convidados do setor audiovisual. “Poder estar ao lado dos profissionais que foram nossos mentores e extrair deles tudo o que pode agregar e aprofundar ainda mais a história que eu e Felipe estamos construindo, foi uma lição de aprendizado que para nós, que ainda somos embriões na área, é um enorme privilégio. Eu espero que nossos colegas de curso vejam que, mesmo tão jovens, nós já podemos ocupar esses espaços e mostrar como há tantos novos talentos por aí”, disse Ricardo.
O curso “Cinema na escola”, ministrado pelo professor do curso de Audiovisual da UFRN, Ruy Rocha, e pelas alunas Débora Mendes e Rebeca Souza, debateu as barreiras e possíveis soluções para implementar projetos de formação audiovisual nas escolas do Rio Grande do Norte. Para Ruy, a troca de experiência entre profissionais do audiovisual e professores de escolas que atuam na cidade foi um ponto fundamental para uma rica discussão. “Há um potencial muito grande para aproveitar o cinema como linguagem, como potencialidade artística, como um instrumento de conscientização e educação nas suas diversas interfaces”, afirma Ruy.
Para fechar com chave de ouro, cerca de 70 alunos do curso de Audiovisual da UFRN organizaram a ida ao festival para poder viver a experiência da formação cinematográfica. O estudante de Audiovisual Guilherme Menezes afirma que “a Mostra de Gostoso é um espaço muito importante de estreitamento da nossa relação com o cinema, especialmente o cinema local, que é onde estou inserido. Sentir-se representado no que você assiste é fundamental e ver gente como eu fazendo cinema não tem preço. Para mim, mostrou que estou no caminho certo do que eu quero fazer, sem falar que foi um momento de celebração muito grande. Não é todo dia que temos a oportunidade de assistir a um filme e no outro dia estarmos conversando com as pessoas realizadoras deles”, conclui.
A mostra acontece anualmente em São Miguel do Gostoso e conta com o patrocínio do Governo do Rio Grande do Norte, do Governo Cidadão, da Secretaria de Turismo do RN (SETUR-RN) e Sprite. O evento recebe o apoio da prefeitura do município de São Miguel do Gostoso, por meio do programa ‘Gostaríamos’, da comunidade local, da LACES, Potiporã, SEBRAE-RN, Itograss e da Pousada dos Ponteiros.
COLETIVO NÓS DO AUDIOVISUAL
Antes da realização do festival, são oferecidos, na cidade de São Miguel do Gostoso, cursos de formação técnica e audiovisual para os moradores. Desde sua primeira edição, foram ministradas 45 oficinas e produzidos 19 curtas-metragens, que foram exibidos na Mostra de Cinema de Gostoso e diversos festivais no país.
Os cursos transitam em conteúdos teóricos e práticos, que abordam todas as etapas para um projeto audiovisual, desde roteiro e linguagem, até direção de fotografia, direção de arte e edição. O objetivo é realizar projetos de forma autônoma, apontando para a profissionalização no setor audiovisual do estado. Os filmes relatam experiências locais com a linguagem documental e ficções que retratam o cotidiano da cidade.
Para Igor Ribeiro, aluno do curso de Audiovisual e integrante do coletivo, essas oficinas oferecem a oportunidade para aprender, produzir e formar cineastas. Este ano, Igor roteirizou junto com João Dias e foi diretor do curta-metragem “Júlia Porrada”, que ganhou melhor filme. “Esse foi o sexto ano de festival e a relação com a comunidade de São Miguel vai ficando cada vez melhor. Desde a primeira edição, a organização tem como uma das tarefas principais a formação de jovens. É muito bom ter a oportunidade e suporte pra produzir filmes a partir das oficinas da mostra de cinema de gostoso e já estamos pensando nos próximos que virão junto com a sétima mostra em 2020”, afirmou Igor.
Em 2019, os alunos participaram de seis oficinas: Linguagem Audiovisual, Roteiro I e II, Realização Cinematográfica I e II e Edição. As três primeiras oficinas foram ministradas pelo cineasta e educador João Paulo Gohar (Cineduc-RJ). Quatro curtas-metragens foram produzidos pelo coletivo esse ano, que foram exibidos no festival: Júlia Porrada, direção de Igor Ribeiro, Labirinteiras, direção de Renata Alves, Carta branca, direção de Rubens dos Anjos e Levi Junior e Ando me perguntando direção de Clara Leal.