No Brasil, 29,8 mil crianças nascem com a doença e 80% desse número precisará de intervenção cirúrgica em algum momento da vida.
Por Layane Vilela
O dia D da cardiopatia congênita, 12 de junho, instituído pelo projeto de lei 90 de 2012 e, juntamente, à portaria Nº 1.727 com o Plano Nacional de Assistência à Criança com Cardiopatia Congênita abordam a importância da discussão do tema. Em alusão a data, os estudantes de Medicina e Enfermagem da Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte(UFRN) realizaram no domingo,9 de junho, uma ação no Norte Shopping com o objetivo de esclarecer a população sobre a definição da doença.
De acordo com a portaria Nº 1.727, 10% dos óbitos infantis são decorrentes de cardiopatias congênitas. E segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1% dos nascidos vivos no Brasil são cardiopatas. O que representa um total de 29,8 mil crianças por ano, tendo como base o os nascidos vivos no ano de 2014. Estima-se que 80% desse total (mais de 23,8 mil crianças) precisarão de intervenção cirúrgica em algum momento do seu desenvolvimento, sendo que a metade deve ser operada ainda no primeiro ano de vida.
Um trabalho de formiguinha para melhorar a assistência ao pacientes
A professora de medicina da UFRN, Gisele Correia Pacheco Leite, especialista em Cardiologia Pediátrica, relembra as dificuldades enfrentadas quando se mudou para o estado.’’Quando eu cheguei em Natal, em 2011, a primeira coisa que eu fiz foi buscar quantas crianças com cardiopatia nasciam e quantas morriam pra poder ter uma ideia de como que estava a assistência no estado, mas não existia esse dado’’, explica. Na época havia apenas um cardiopediatra atendendo no Hospital universitário Onofre Lopes (HUOL) e nenhum profissional especializado, na área, dando aulas na universidade para qualificar a formação e mudar o quadro.
Em 2012 a cardiologista passou no concurso para professora e começou a fazer um levantamento com os alunos das dificuldades e deficiências referentes a doença no estado. ‘’foi aquele trabalho de formiguinha’’, relata. Em vista da precariedade no número de aulas e como forma de estimular a busca dos alunos pelo tema a professora criou um blog sobre cardiopatia e o dividiu em duas partes. Uma para educação da população, como forma de esclarecer e simplificar o diagnóstico para as mães das crianças. E outra para os alunos e profissionais da saúde terem um material para consulta.
’’De lá pra cá aumentou o número de alunos interessados no assunto e foi quando a gente começou entre 2013 e 2014 o clube de cardiopediatria’’. Gisele exalta a importância da participação dos alunos na trajetória pela melhoria no atendimento.‘’. A Partir daí começamos a as ações de extensão e ensino de cardiopatia congênita, teste do coraçãozinho e febre reumática. E em 2015 nós realizamos nosso primeiro dia D da cardiopatia oficializado, no HUOL’’, conta a professora.
Quatro anos do dia D da cardiopatia congênita no Rio Grande do Norte
A quarta edição do dia da cardiopatia congênita foi planejada pela equipe de cardiopediatria do Hospital Universitário Onofre Lopes, orientada pela cardiopediatra Gisele Pacheco e organizada pelos alunos do curso de medicina que compõem os projetos de extensão: Liga acadêmica de cardiopediatria, Teste do Coraçãozinho e Programa de Febre Reumática vinculadas à Pró reitoria de Extensão (PROEX) . A Ação foi composta por quatro estandes informativos, contando também com um espaço de recreação para crianças e formulários de pesquisa elaborados pelos estudantes.
No primeiro estande, com auxílio de banners, as alunas Alice Mendes Duarte e Letícia Maria de Oliveira, do segundo período do curso de medicina explicam que as cardiopatia congênitas são malformações cardíacas, (na estrutura e funcionamento do coração). Essa situação se apresenta antes mesmo do nascimento e possui manifestações variáveis que podem atrapalhar no desenvolvimento da criança.
Alguns dos possíveis sintomas são: fadiga, respiração acelerada, além de sinais como ponta dos dedos, boca e nariz azulados, podendo, estas malformações levar a insuficiência cardíaca e se não resolvida, ao óbito. Por isso, chamam atenção para importância da triagem neonatal, mesmo se não houver apresentação dos sintomas para se ter conhecimento, mais rapidamente, do diagnóstico. Permitindo assim a prevenção das complicações da doença.
Prevenir sempre é o melhor remédio e só se tornou obrigatório em 2014
A prevenção pode ser realizada através do teste do coraçãozinho, que é o método principal para se detectar cardiopatias congênitas nas maternidades. O teste passou a ser obrigatório no SUS a partir de 2014 e é realizado na triagem neonatal, durante as primeiras 24 e 48 horas de vida junto com os demais testes como, o da orelhinha, da linguinha, e do olhinho. O teste é indolor, feito a partir de sensores colocados na mão e pé direitos do bebê para que se possa medir a quantidade de oxigênio que passa no vasos sanguíneos.
A explicação do resultado do teste foi dada pelo aluno Francisco de Paula Neto, também do segundo período de medicina.’’Se a saturação (quantidade de oxigênio passada) for acima de 95 por cento, não é necessário refazer o exame. No entanto, se resultado for abaixo de 95 por cento ou se houver uma diferença acima de 3 por cento entre o pé e a mão, deverá ser repetido o teste depois de uma hora. Se resultado for o mesmo, será pedido um ecocardiograma. Um exame com imagem do coração e assim será possível dar o diagnóstico.’’
No estande ao lado, os estudantes explicaram de maneira ilustrativa,com o auxílio de um modelo anatômico , como é o funcionamento e as partes que o compõe o coração. Além da parte visual, também foi permitido à população ouvir o próprio batimento cardíaco com um estetoscópio e ,também, a gravação do som de um coração com funcionamento normal e outro que apresentasse sopro (ruído na passagem do fluxo de sangue), para facilitar no entendimento e na diferenciação.
Uma ação importante para a população e para os alunos
Carlos André, funcionário público, que já hipertenso, passou pelo último estande que oferecia aferimento de pressão e avaliação nutricional e compartilhou o resultado do atendimento. ‘’ Foi passado que estou acima do peso e que minha pressão está um pouco alterada. Recebi recomendação para atualizar minha avaliação médica junto a unidade básica de saúde, regrar na alimentação e praticar exercícios físicos. São importantes ações como essa para esclarecimento. Doença cardíaca não é brincadeira,muitas vezes, ela é bem silenciosa.’’
Arethé Araújo, assistente social que também escutou as explicações sobre o tema defende a importância da ação, da aproximação da universidade com a população e a atualização sobre os estudos’’. A informação é fundamental para a prevenção que é muito mais barato que tratamento com medicamentos e internação. Eles estão de parabéns, a linguagem usada é simples e acessível. Espero que a universidade tenha condições de continuar promovendo mais ações assim’’, diz.
A ação terminou com a entrega de flores ao casais presentes e com um grito de guerra da equipe que participou do evento. As estudantes do segundo período de medicina relataram como foi a experiência. “Na escola você não tem esse momento de pesquisa que a universidade proporciona. E junto a isso, poder lidar com as pessoas’’. Reflete Evelyne Mayara de Araujo Silva sobre a oportunidade de crescimento, já no início da graduação. Leticia Maria de Oliveira acrescenta que os projetos são a parte humana do curso e que é muito bom o contato, poder repassar o conhecimento “ver o que agente aprendeu na teoria se tornar realidade”, conclui.