Por Giovanna Dubiniak e Heloisa Brito
O evento “Fascismo Nunca Mais” realizou, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 28 de outubro, o bate-papo “Jornalismo e Memória: 50 anos de luta por justiça para Vladimir Herzog”. O encontro reuniu Ivo Herzog, filho do jornalista a professora Conceição Fraga e a jornalista Isadora Morena, do Instituto Vladimir Herzog (IVH), para discutir a importância de Vlado e os desafios da democracia.
A abertura, feita pelo jornalista Pedro Dias, lembrou a trajetória de Vladimir Herzog: desde sua infância como refugiado do nazismo, sua chegada ao Brasil em 1946, até se tornar jornalista cultural, professor e, por fim, diretor de jornalismo da TV Cultura em 1975. Dias lembrou como era a época da morte de Herzog, durante o governo de Ernesto Geisel, que prometia uma “abertura” política, mas ainda reprimia com violência. “Em 24 de outubro de 1975, ele foi procurado para depor sobre uma possível ligação com o Partido Comunista. No dia 25 pela manhã, ele se apresenta no DOI-CODI e de lá não sai mais”, narra Dias, lembrando a mentira do “falso suicídio” criada pelos militares.
Ivo Herzog começou sua fala corrigindo um dado histórico: “Ele não foi militante do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), ele foi militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Isso faz muita diferença, porque o meu pai, por ser um sobrevivente do Holocausto, era totalmente contra qualquer forma de violência.”

Ivo destacou que, quando se encontrou com Marcelo Rubens Paiva, ele disse algo que o marcou muito: as vítimas, como seu pai ou o deputado Rubens Paiva, não são os heróis da história, as verdadeiras heroínas são as mulheres, como sua mãe, Clarice Herzog, “que tiveram coragem e dedicaram a vida na busca por verdade e justiça”.
O foco principal de sua fala foi a Lei da Anistia de 1979, que ele vê como o “principal obstáculo” para a justiça. “A anistia no Brasil tem uma interpretação do STF (Supremo Tribunal Federal) que perdoa os crimes cometidos pelos agentes do governo”, critica Ivo. “Como eles podem ser a favor de uma lei que perdoa crimes que eles não admitem ter cometido?”
Um dos pontos centrais de sua fala foi a crítica, que, segundo ele, segue sendo o maior obstáculo para a responsabilização dos agentes da ditadura. Ivo lamentou a interpretação do STF, que perdoa crimes cometidos por agentes do Estado, e denunciou a demora do julgamento da ADPF 320, parada há anos. Ele também ressaltou avanços recentes, como a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que em 2018 condenou o Brasil por crimes contra a humanidade no caso Herzog, e o recente pedido de desculpas da presidente do Superior Tribunal Militar (STM) um gesto simbólico, mas importante na luta pela memória e pela justiça.
O evento foi um momento de reflexão sobre o passado e de reafirmação da necessidade de preservar a memória histórica, garantindo que o legado de Vladimir Herzog continue inspirando a defesa da democracia, da verdade e dos direitos humanos.







