Por Leonardo Cassimiro
Quando se fala em foguetes, muita gente imagina laboratórios secretos da NASA. Mas no Rio Grande do Norte,dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), existe uma equipe chamada Potiguar Rocket Design que mostra que o espaço está muito mais próximo.
Deste 2016, a Potiguar Rocket Design (PRD) reúne estudantes e voluntários apaixonados por ciência e tecnologia. O grupo atua como projeto de extensão com três objetivos: participar de competições aeroespaciais, difundir a área no estado por meio de palestras e visitas, e produzir conteúdos científicos para eventos e congressos.
“Nosso objetivo é tornar o conhecimento científico mais acessível. Muitas vezes ele parece complicado, mas buscamos adaptá-lo ao público do ensino médio, por exemplo”, explica Lavinia Dantas, diretora da presidência da PRD. O projeto promove oficinas, workshops, palestras e até competições entre estudantes para validar o conhecimento na prática, aproximando assim, os jovens da ciência e despertando o interesse na área.

A PRD atua em áreas como propulsão, aerodinâmica, estruturas, eletrônica, recuperação e divulgação científica. Para os membros, participar do projeto é um mergulho em novos saberes,desde cálculos de estabilidade de voo até fabricação mecânica, sistemas embarcados, peças em impressão 3D e gerenciamento de grandes projetos.
“A equipe funciona em várias frentes. Como gerente da eletrônica, vejo que os próximos passos estão muito ligados ao desenvolvimento acadêmico”, conta Wilson Douglas. Atualmente, o grupo desenvolve três artigos científicos para apresentar no congresso Aeroespacial Brasileiro (CAB), em Brasília, um grande passo para a divulgação científica do projeto.
Participar de eventos nacionais também é parte essencial da experiência. “Já participamos de competições no Nordeste e em outros estados. É uma troca muito rica, que nos ajuda a melhorar tecnicamente e também a criar contatos com outras equipes”, lembra Wilson.
Rasga Mortalha: evolução em 3 atos
Um dos projetos mais emblemáticos da PRD é a série de foguete Rasga Mortalha. Cada versão trouxe novos aprendizados e melhorias técnicas.
“Na primeira versão, tivemos problemas com o material em fibra de carbono, que atrapalhou a coleta de dados e prejudicou a execução dos paraquedas”, explica Pedro Machado, gerente do setor de ejeção e paraquedas. “Na Rasga Mortalha 2, corrigimos parte disso trocando para fibra de vidro , mas ainda enfrentamos falhas no momento da ejeção”.

A terceira versão, lançada em julho de 2025, trouxe avanços, mas também desafios. “A Rasga Mortalha 3 foi mais refinada, mas a aviônica desligou durante o voo, o que impediu a ejeção dos paraquedas. O foguete acabou caindo sem recuperação, apesar disso, foi uma grande evolução na integração dos subsistemas da equipe”, acrescenta Pedro
Mesmo com obstáculos, a equipe não desanima. “Já temos planos para corrigir os problemas e relançar a RM3. Queremos alcançar o tão esperado voo nominal e concluir esse ciclo de foguetes de teste”, comenta Pedro.
Desafios de manter o projeto
Além das questões técnicas, a equipe também enfrenta dificuldades financeiras para manter os projetos.
A diretora de Comunicação e Negócios, Sophia Martins, reconhece os obstáculos de manter o caixa da equipe positivo sem a bolsa da Universidade. “Fazemos rifas, vendemos camisas, bonés e outros produtos em festivais. É assim que mantemos o projeto funcionando”, explica.
O apoio da comunidade é essencial para preservar as atividades do projeto. O contato é feito através do Instagram @potiguarrocket, onde é disponibilizado o PIX e divulgações de ações de arrecadação.

Parcerias e impacto social
Outro pilar do projeto é a relação com a comunidade. A PRD retomou recentemente uma parceria com a Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), que oferece espaço e suporte logístico para testes e lançamentos.
“Esse espaço é fundamental porque nos permite realizar ações de ensino e também de operações mais complexas, como testes de motores e lançamentos de maior porte”, afirma Lavinia.
A equipe também se destacou em competições educacionais como a ObaFog (Olimpíada Brasileira de Foguetes). “Esses eventos são muito importantes porque geram networking com outras equipes e nos permitem levar práticas mais avançadas para as escolas daqui. Isso enriquece tanto nossos membros quanto os alunos da rede básica”, completa Lavínia.

Com cada lançamento, a PRD prova que a ciência feita na universidade pode transformar vidas, abrir caminhos e inspirar novas gerações. “Para 2026, queremos ampliar a integração com a Pró-Reitoria de Extensão da UFRN, levando oficinas e atividades científicas para diferentes municípios”, revela Lavínia.
“Nosso propósito é mostrar que a ciência não é algo distante, mas que pode fazer parte do dia a dia de qualquer pessoa.”
E com planos de novos foguetes, artigos científicos e projetos em escolas, a Potiguar Rocket Design segue mirando mais alto. O grupo prova que, com dedicação e colaboração, é possível construir foguetes mas também sonhos e oportunidades. E, enquanto mira o céu em busca de voos mais altos, a equipe mantém os pés firmes no chão potiguar, mostrando que o futuro do espaço também pode nascer aqui, no Rio Grande do Norte.