Por: Heloisa Brito
O combate ao câncer de mama segue sendo uma urgência no Brasil e, neste Outubro Rosa, o foco retorna à prevenção e ao diagnóstico precoce. No RN, a Liga Contra o Câncer reforça a importância da atenção à saúde da mulher com iniciativas de apoio que vão além do cuidado médico.
Durante todo o mês de outubro, a Liga Contra o Câncer desenvolve um trabalho junto à população e aos grupos de apoio, como mutirões de exames gratuitos, venda de camisetas da campanha, exposições e outros eventos educativos.
Entre os grupos, um destaque especial ao Despertar, formado por mulheres que já viveram a experiência do câncer de mama e hoje acolhem e orientam outras pacientes em tratamento. É uma rede de afeto que transforma medo em força e esperança.

“É uma campanha de conscientização sobre fatores de risco e, principalmente, sobre diagnóstico precoce, porque quanto mais cedo a gente descobre um câncer de mama, maiores as chances de cura. Cada exame feito, cada paciente atendida, é uma história que pode ser salva.” Explica Karla Emerenciano, 54, médica oncologista da Liga Contra o Câncer.
A trajetória da especialista também se confunde com a história da Liga. Ela entrou na faculdade de Medicina aos 16 anos e, logo no segundo ano, passou a fazer um estágio voluntário na instituição. Foi nessa mesma época que sua mãe teve câncer. “Então, ao mesmo tempo que eu estava me preparando para ser médica, eu também estava do outro lado, como acompanhante de uma paciente oncológica. Acho que isso foi muito importante na minha formação, porque isso me lapidou ainda mais para eu desenvolver esse olhar empático com quem está sofrendo, com quem está doente”, relata. Hoje, como diretora de Experiência do Paciente da Liga, ela explica: “Além de ser médica assistente, eu também, como gestora, cuido da jornada do paciente oncológico: desde que o paciente entra em contato com a instituição, quando ele passa por aqui, passa pelo tratamento, o exame que ele faz na Liga, o cuidado com a qualidade e segurança, com hotelaria, com os ambientes. Sou responsável também pelo grupo de voluntariado e pela ouvidoria. Com isso, a gente consegue ter um olhar mais amplo sobre a jornada desse paciente”, completa.
“Câncer de mama tem cura. É importante que você conheça o seu corpo. Qualquer anormalidade, procure um médico. Não tenha medo de fazer um diagnóstico, porque quanto mais precoce, maior a chance de cura. E, para quem está nos lendo e já teve o diagnóstico de câncer de mama, compartilhe sua história e estimule alguém a fazer sua prevenção”, aconselha a doutora.
Enquanto Karla destaca a importância do diagnóstico precoce e do acolhimento durante toda a jornada do paciente, outras vozes da Liga reforçam que o cuidado vai muito além do atendimento médico. É nesse espaço de empatia e suporte que surgiu, há 32 anos, o grupo Despertar, formado por mulheres que já enfrentaram o câncer de mama e decidiram ajudar outras pacientes que estavam iniciando esse processo.
O diagnóstico traz medos e incertezas, e o acolhimento faz total diferença nesse percurso. Inicialmente, o grupo se reunia em uma sala no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e, hoje, conta com um espaço dentro da Liga Contra o Câncer, que acolhe diariamente dezenas de mulheres, oferecendo apoio emocional, experiências compartilhadas e atividades práticas que transformam medo e incerteza em coragem e esperança.
“Na hora que ela recebe o diagnóstico, nós estamos lá. Tentamos conversar, escutar, fazer ela se abrir. Às vezes, um sorriso é tudo que precisamos para sentir que nosso dia valeu a pena”, relata Eleni Mesquita, 64, artesã e coordenadora do grupo Despertar.
O trabalho do grupo Despertar vai além do apoio emocional. Elas fazem visitas hospitalares, também oferecem atividades como yoga, funcional, dança, artesanato e até um coral. Além de palestras com profissionais da saúde e trocas de experiências das pacientes. “Tudo é feito com muito amor, pode acreditar”, completa Eleni, emocionada.

A história de Eleni é um exemplo de superação. Curada há 20 anos, ela relata que a experiência com o câncer de mama transformou completamente a sua forma de enxergar a vida. “É uma dor que só a gente sabe. Mas hoje eu agradeço a Deus por ter passado, porque posso ajudar outras mulheres. Foi para isso que eu tive câncer de mama: para ajudar”, afirma.
Eleni também relembra o apoio que recebeu da família, especialmente de sua filha, que na época cursava medicina e cortou o cabelo para doar para a mãe. “Ela disse que ficaria tudo bem. Eu prometi que iria me curar para retribuir todo o amor que eu estava recebendo.”
O grupo é formado por cerca de 70 mulheres e tem uma “comissão de frente”, formada por cerca de 30 voluntárias treinadas com suporte psicológico para oferecer acolhimento e apoio adequado para as pacientes. Segundo Eleni, a maioria das mulheres chega através do SUS, muitas dessas, carentes de afeto, de informações e de recursos. “E é por isso que o grupo existe: para oferecer amor e recomeço”, completa Eleni.
Mesmo diante dos desafios, Eleni faz questão de sempre manter a sua esperança e o bom humor. “Eu costumo cantar ‘Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima’. Às vezes a gente chora, desanima, mas não pode desistir nunca”, diz, com um sorriso no rosto que traduz o espírito de quem venceu e hoje inspira outras mulheres a fazer o mesmo.
Histórias como a de Eleni e de tantas outras mulheres mostram que o Outubro Rosa é mais que uma campanha. É um movimento de amor, coragem e empatia.
Mais do que uma cor ou um mês, o Outubro Rosa é um lembrete: prevenir é um ato de amor próprio e à vida.







