Bate papo com autora Lia Luz / Foto: Giovanna Dubiniak

Por Giovanna Dubiniak, Jaiula Alves e Sthela Evaristo

A Livraria Cooperativa Cultural, localizada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), recebeu, na última sexta-feira (5), o lançamento do livro “Coragem de Ser”, da escritora e yogini (praticante/professora de yoga) Lia Luz. A obra traz reflexões sobre temas delicados como aborto voluntário, suicídio e violência doméstica, articulados a partir de experiências pessoais da autora, que encontrou na escrita uma forma de reconstrução pessoal. 

O lançamento reuniu estudantes, professores e leitores da comunidade, que puderam dialogar com a autora e refletir sobre os desafios contemporâneos ligados à saúde mental, à violência de gênero e a busca por caminhos de ressignificação.

Além de escritora, Lia Luz é pesquisadora formada em jornalismo, professora de yoga e realiza vivências que unem a espiritualidade a práticas corporais. Ela participou de retiros e formações dentro e fora do Brasil e “Coragem de Ser” é seu primeiro livro e é apresentado como um testemunho de resistência e inspiração para quem enfrenta processos de dor e transformação.

A escritora conta que, no início, sua ideia era escrever um livro apenas sobre a Índia, mas, ao longo do processo, percebeu a necessidade de incluir outras questões que marcaram sua trajetória. Ela explica: “Já se vão quase 30 anos e, na época, então, a gente não falava”, e continua com a seguinte frase “A gente está no mês da conscientização das doenças mentais, mas há 30 anos falar de suicídio e depressão, era uma fala invisibilizada. As pessoas se envergonhavam, não tinham clareza sobre isso”. Por isso, na primeira versão quase não tratou desse tema, mas, com o tempo, sentiu que não poderia deixar de lado certas memórias e, assim, tornou o livro mais íntimo e verdadeiro.

Capa do livro “Coragem de Ser” de Lia Luz / Foto: Sthela Evaristo

Durante o evento, Lia explicou que o título “Coragem de Ser” nasce da ideia de que “coragem significa agir com o coração, coragem da gente ser aquilo que a gente é em essência”. Segundo ela, escrever foi também um ato de cura, um ato de sua própria reconstrução e um convite ao diálogo sobre vivências muitas vezes silenciadas. “Meu objetivo foi lançar luz sobre experiências que permanecem no silêncio, ajudando outras mulheres a ressignificar suas dores”, afirma a escritora.

Vale destacar que, ao falar sobre o aborto voluntário, a escritora deixa claro que essa não era a temática central do livro. A obra não nasceu com um selo de ativismo em favor da legalização do aborto; o objetivo de compartilhar essa experiência era mostrar que, em lugares onde o aborto é legalizado, ele pode ser realizado de forma consciente e segura. Ela relata ter passado por esse processo em um país em que tinha seus direitos garantidos e se sentiu acolhida sem ser criminosa.

“Foi transformador eu poder ter passado por essa experiência, em um lugar legalizado, em que fui acolhida. Então, meu objetivo era lançar luz para outras formas que essa experiência pode acontecer”. 

Além disso, a escritora destaca que a violência doméstica foi um fator determinante em sua decisão de interromper a gestação, mostrando que experiências como essa fazem parte de trajetórias de vida muitas vezes silenciadas. Ela ressalta: “Esses temas têm que vir à luz para que a gente, como sociedade, consiga enxergar que eles acontecem e precisam ser debatidos, tanto violência doméstica, como suicídio e aborto. Isso faz com que a gente, como coletivo, possa crescer e evoluir nessas temáticas.”

Ela mostra que trazer esses temas à luz é fundamental para a reflexão individual e coletiva. A Índia, ao oferecer momentos de mergulho profundo e afastamento de seus papéis cotidianos, funcionou como um espaço de meditação, permitindo que ela se reconectasse consigo mesma. Da mesma forma, práticas como o Ashtanga Yoga possibilitaram que ela encontrasse um método diário de silenciar, observar suas emoções e acolher experiências difíceis, criando um espaço seguro para refletir sobre esses temas.

Estudantes de Jornalismo: Jaula Alves, Giovanna Dubiniak e Sthela Evaristo (da esquerda para a direita) em selfie com a escritora Lia, autora do livro “Coragem de Ser” / Foto: Sthela Evaristo

Ainda, a escritora lembra que a transformação acontece dia após dia, como regar um jardim e esperar que ele floresça. Ela reforça a importância de criar momentos de silêncio e introspecção para se olhar, se acolher e se aceitar. “Eu acho que é o principal passo, porque quando a gente se acolhe e se aceita, a gente está bem com a gente, mesmo que a gente erre, a gente sabe que tentamos o melhor”.

Sua mensagem é de esperança e humanidade: todos têm capacidade de se reinventar, superar dificuldades e transformar suas histórias, aprendendo com cada experiência. O livro convida o leitor a olhar para sua própria vida com atenção, empatia e carinho, reconhecendo que cada passo, mesmo o mais difícil, pode se tornar força para crescer e seguir adiante.

Lia Luz também ressalta a importância do apoio que recebeu durante o processo de escrita e publicação do livro. Entre essas presenças fundamentais, destaca sua mãe, que sempre esteve ao seu lado, além da professora Vânia, que a contribuição foi igualmente significativa. Ao mencionar essas pessoas, ela faz questão de afirmar que nunca caminhou sozinha, reconhecendo que a obra é fruto não apenas de sua dedicação individual, mas também da rede de apoio que a sustentou ao longo dessa jornada.

O público participou de uma conversa íntima com a autora, marcada por momentos de emoção e troca de experiências que abordaram temas como violência doméstica, aborto, perdas e o processo de autoconhecimento. Entre os temas discutidos, ganharam destaque o papel da espiritualidade e práticas como o yoga no processo de autoconhecimento e a cura sobre os temas debatidos. Como Lia disse: “É acolher a caminhada na integralidade, com fracassos e conquistas, acreditando na capacidade humana de se reinventar”

Coragem de Ser está disponível para venda na Livraria Cooperativa Cultural ou na Amazon.