Por Marianne Plessem
Realizado nos dias 10 e 11 deste mês de junho, pelo Diretório Central dos Estudantes José Silton Pinheiro, o IV Encontro de Mulheres Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte propôs espaços de diálogos construtivos a respeito dos impactos do capitalismo na sociedade em que vivemos, e sobretudo, em como o machismo – expressão de ações que reforçam a superioridade masculina – afeta o ambiente acadêmico e a formação das estudantes.
A abertura do evento se deu às 17h30, da terça-feira, no auditório do Centro de Educação e contou com a participação de diversas ativistas engajadas no debate de gênero. A mesa era composta por parlamentares, representantes das entidades estudantis UNE e UEE, e dirigentes de organizações feministas, que têm em suas vidas o compromisso com o feminismo e com a luta pela vida das mulheres.
Essa é a 4° edição do Encontro de Mulheres Estudantes da UFRN (EMEUF), no entanto há cerca de 6 anos o evento não era realizado nos campi potiguares. E se iniciou devido uma forte parceria das organizações do movimento de mulheres e os Diretórios Acadêmicos das Universidades com a União Nacional dos Estudantes, que consolidou esses encontros estaduais como prévia para o encontro nacional, segundo Ana Livia, Coordenadora de Mulheres do DCE-UFRN, que também ressalta ”O EMEUF na UFRN vem de uma trajetória mais longa, que não toca só a UFRN. Mas começa quando se fundam as Diretorias de Mulheres na UNE, que surgem com muita influência da Marcha Mundial das Mulheres.”

No decorrer dos dois dias de programação com rodas de conversa, cine-debates, oficinas de taekwondo e feirinhas de artesanato, que ocuparam diversos setores do Campus Central, e pautaram o debate da luta de gênero e suas complexas intersecções. O evento teve como temas de rodas de debate “Olhar feminista sobre o mundo do trabalho e da pesquisa: a relação com a eescala 6×1”, “Solidariedade e auto-organização na construção de uma universidade mais segura para as mulheres” e “Energia e crise climática – por territórios feministas e soberanos”
O último EMEUF que ocorreu na UFRN foi em 2019, ano que o Brasil registrou um aumento de 4% na taxa de feminicídio, e também, em que o tomou posse o governo Bolsonaro, sendo marcado pela prática da política de vetos, que impediu a sanção de diversas propostas importantes para a vida das mulheres e políticas públicas, como por exemplo o PNAINFO(Plano de Combate à Violência de Gênero), que visava medidas emergenciais de proteção à vítima.
Camila Barbosa, ex-Vereadora da Câmara Municipal de Natal recorda as edições passadas do evento e comenta “Sinto que as estudantes estavam mais seguras em se manifestar e reivindicar pautas históricas, como os direitos reprodutivos, na minha época de caloura de pedagogia na UFRN, mas em algum momento pisamos no freio para nos concentrar em barrar retrocessos, e não em pleitear avanços. Os casos de assédio que explodem frequentemente na universidade são um sintoma disso. E quanto à eles vale registrar o papel vergonhoso que muitas vezes a Reitoria cumpriu e cumpre negligenciando a apuração das denúncias, protegendo os agressores e desamparando as vítimas.”.

A forte crítica de Camila para a Reitoria alerta a impunidade vivenciada pelas estudantes, mesmo após a abertura da queixa. Apenas entre os anos de 2021 e 2023, houve aumento de 44,8% nos processos judiciais sobre assédio sexual nas Universidades Federais e mais de 360 mil novas ações registradas, segundo levantamento do Tribunal de Contas da União. O TCU também realizou no dia 12/03, na sessão plena, uma auditoria que avaliou a existência e eficácia de sistemas e práticas de prevenção e combate ao assédio em Universidades Federais. E esse registrou que das 69 Universidades Federais Brasileiras avaliadas, 60% delas (41 instituições), não apresentam política institucionalizada ou plano setorial de prevenção e combate ao assédio. E das 28 Universidades que possuem plano 19 apresentam lacunas normativas.
Esses dados são alarmantes e, infelizmente, correspondem a um levantamento vigente do ano de 2025. Demonstram a necessidade da proposição de espaços auto-organizados para as mulheres, e a construção de um Plano de Combate ao Assédio para UFRN.
Em abril deste ano uma forte onda de assédios foram vivenciados pelas estudantes nos limites dos territórios da UFRN – Central, e veiculados em diversas redes sociais. Resultando na apreensão e bem breve soltura do principal suspeito, responsável por mais de 20 boletins de ocorrência de assédio nos Circulares da UFRN. A justificativa dada pela Justiça a respeito da sua liberdade foi devido ao suspeito passar por um tratamento psiquiátrico.
A Coordenadora Geral do DCE Mariana Santos em sua fala afirma “Depois de um período onde a gente passou por vários casos de assédio, importunação sexual, entre vários outros problemas dentro da universidade, o EMEUF é um dos eventos mais importantes que a gente poderia estar realizando nesse momento. Enquanto DCE, acreditamos que são espaços como esse, em que se escuta diretamente os estudantes, ouvindo dificuldade de cada menina, e de cada vivência da UFRN, que vamos achar soluções para cada vez mais transformar a universidade num lugar melhor”
O evento teve seu fim às 19 horas da quarta feira, numa plenária final no Coliseu, Anfiteatro do Setor II de aula do Campus Central. Mas, em entrevista, a organizadora e Diretora do DCE Ana Livia, ressaltou que as movimentações continuam com os encaminhamentos deliberados no Encontro de Mulheres Estudantes da UFRN. E convidou toda a comunidade acadêmica a participar da abertura do grupo de Estudos Nalu Faria, às 15 da sexta feira (13), no campus da universidade.