Por Anderson Oliveira de Lima

Tenho andado preocupado com a situação dos lixos nas praias cativantes do Rio Grande do Norte. A princípio, passou pela minha mente que fosse uma problema maior do que os meus olhos poderiam ver, como o relato do jornal da globo, o qual expôs que a praia do segredo  e, descoberto posteriormente, a praia do cabo do são roque, são Muriú e a praia de Búzios estavam sendo terrivelmente assoladas por um lixo estrangeiro que vinha dos navios de carga asiáticos. Fiquei aterrorizado. Comecei a fotografar os lixos para que fossem analisados depois e talvez produzir uma matéria mais detalhada; cheguei até a entrevistar quatro ou cincos pessoas, entre banhistas e trabalhadores locais da praia da Redinha e Santa Rita, as quais foram as praias em que reparei uma quantidade de lixo maiores e também por serem as praias que eu mais frequento.

A priori, a ideia de fazer uma matéria havia surgido por uma impressão pessoal minha de que a quantidade de lixo estava maior, que não daria para esconder mais. Depois, me chegou, por mensagem de amigos próximos, as matérias do jornal G1 da rede globo, o qual, como havia dito, expunha o lixo asiático. Foi com essa linha de pensamento que eu comecei a fotografar o lixo e a buscar todo tipo de pessoa que estivesse em contato com essa realidade suja ,majoritariamente, especialistas e trabalhadores locais. Estava em busca de entrevistas.  Foi quando, em uma noite amena a qual eu já estava produzindo a matéria com essa perspectiva dos lixos asiáticos, que eu recebi uma mensagem do Lucas Gabriel, presidente da Associação de Proteção Ambiental Cabo de São Roque [ APC de Cabo de São Roque] ; eu havia entrado em contato por email e deixado meu contato, mas não esperava que fossem responder, muito menos o presidente e, muito menos ainda, naquela hora da noite, às vinte horas. Fiquei extremamente feliz com o contato, no entanto, como diz o ditado, a felicidade de pobre dura pouco… e para adicionar, se o leitor me permitir, a felicidade de um pobre jornalista dura bem menos. Com a análise das fotos, o presidente da APC de Cabo de São Roque me alertou que , na verdade, aquelas fotos não se tratavam de um lixo asiático, e, sim,  dos banhistas e moradores locais. O meu pensamento, sobre ser um lixo asiático, não era apenas baseado na matéria, ele estava embasado na minha teoria pessoal de que os lixos estavam vindo do mar para a areia e não da areia para o mar , por isso, na minha cabeça, faria sentido que fossem lixos vindos de outros lugares – talvez, até outros continentes. Apenas uma explicação para o leitor, no entanto, reconheço a minha falha de apuração.

Fiquei desolado com a angústia de uma matéria que “ tinha dado errado” na minha perspectiva, mas eu tenho os meus motivos pessoais: não tive a capacidade intelectual de analisar que o lixo, na verdade, vinha dos próprios moradores da região, ou seja, isso significava que era uma falta de respeito da própria comunidade. Eu, inconscientemente, não queria acreditar nisso. Não poderia acreditar que os próprios moradores eram os verdadeiros culpados por aquela sujeira toda. Uma verdadeira lástima.

A quantidade de resíduos nas areias potiguares, principalmente nas praias da Zona Norte é resultado, portanto, de uma falta de interesse da própria comunidade de moradores da região. Isso é de se preocupar ainda mais do que um lixo que vem de outro continente através de navios de carga. E explicarei ao leitor os meus motivos para tal afirmação.Se espera que a população local sempre reconheça a importância da própria natureza; não se espera que grandes empresas privadas sejam coniventes com a proteção ambiental , mas, caro leitor, é esperado que os banhistas, trabalhadores locais, moradores e toda a gente bonita que frequenta essas praias se preocupem com a limpeza e proteção desses ambientes. É um sintoma grave de síndrome do vira-lata,  a sua maneira mais pulsante, que a própria mocidade presente nessas praias não tenha o mínimo respeito para com a natureza local. Este é o verdadeiro diabo da história. E não me entendam mal, não digo que os lixos dos navios cargueiros das grandes empresas asiáticas são menos ou mais responsáveis pela poluição… digo apenas que deles nada espero, mas daqueles que convivo e divido a mesma língua e cultura, espero demais.